Quando os interesses sindicais estão acima do partido

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Na primeira votação significativa da Câmara de Vereadores de Sorocaba neste mandato, em janeiro de 2021, Salatiel Hergezel, eleito para o seu primeiro mandato pelo PDT, votou favoravelmente ao projeto do prefeito Manga que pedia autorização para a Prefeitura de Sorocaba contrair empréstimo em dólar. Um voto surpreendente, uma vez eu o PDT foi eleito como oposição ao prefeito e sempre foi contrário ao empréstimo. Naquele momento, eu entendi e escrevi, que viesse a ser qual fosse os votos futuros de Salatiel, ele estaria marcado como aliado e não oposição.

Um ano depois daquele voto, o clima de Salatiel dentro do PDT está insustentável em razão de outros votos alinhados com o prefeito dados por Salatie. Em retribuição à fidelidade de Salatiel, o prefeito Manga sempre o chama quando vai anunciar algo para o funcionalismo (antecipação do pagamento dos vencimentos da categoria no final do ano e agora o anúncio de um concurso público de ampla abrangência para diferentes cargos dentro da Prefeitura).

Uma postagem no final da tarde de ontem, de um militante do PDT, Fábio Grão, indica que Salatiel também aceitou indicar aliados seus para cargos dentro da Prefeitura por livre nomeação do prefeito.

O comportamento de Salatiel indicam que os interesses da classe, o funcionalismo público, falam mais alto do que os interesses da sociedade que é para quem um vereador legisla. Salatiel foi eleito presidente do Sindicato dos Servidores Públicos Municipais da Prefeitura de Sorocaba em 2013 e nestes dez anos à frente da entidade tem dividido polêmicas, acusações e sucessos. A eleição dele, me parece, coroa o seu trabalho e é o definitivo reconhecimento da categoria pelo trabalho que ele faz pelo funcionalismo.

A verdade é que eleição de Salatiel e da maioria dos vereadores indica que o sistema eleitoral privilegia a eleição de quem tem um nicho de atuação, ou seja, foram eleitos quem representa uma categoria (como são os casos dos sindicalistas Salatiel e também França, ligado ao sindicato dos trabalhadores em transporte; Iara e Fernanda, ligadas ao movimento sindical da educação) ou faz trabalho assistencial no seu bairro ou região da cidade.

A postagem de Fábio Grão, ao estilo de quem o conhece, dá transparência ao clima dentro do PDT. Mas seu tom, afinal o militante chama Salatiel de traíra, bosta e vendido, pode ser a saída para Salatiel seguir sua vida com o mandato de vereador em outra legenda sem correr o risco de perder o mandato. Se a legislação é clara em dizer que o mandato do vereador (como também dos deputados) é do partido e não da pessoa eleita, ela também o é ao dizer que questões internas do partido são tratadas internamente, à luz do regimento da legenda, e não com publicações em redes sociais.

De olho nesta questão, a Rede já abriu as portas para a chegada de Salatiel. Não será surpresa, de acordo com o que lhe garantir seu advogado, se em breve ele anunciar sua mudança de legenda.

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