Racismo estrutural 

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Não raro, na última década, desde a criação deste blog, escrevo sobre uma realidade das grandes cidades: Crianças vendendo pipoca doce ou garrafa de água nos semáforos.

O pêndulo ideológico do governo badala do centro, para a esquerda, para a direita, para a esquerda novamente e a situação não muda. Pois é evidente que a fome e a necessidade não têm ideologia.

Ver essas crianças sempre foi e segue sendo um incômodo. Ou pelo menos deveria ser. O fato é que o cidadão de dentro do seu carro vai se acostumando com essas crianças. Não se incomoda tanto mais. Até acha que é assim mesmo e pensam, alguns até dizem: Pelo menos estão trabalhando. 

Trabalhando? 

O trabalho pressupõe uma relação entre o patrão, empregado e consumidor. Cada um levando a sua vantagem. Há regras trabalhistas para proteger essa estrutura. É exploração o que sofrem essas crianças. Os donos dos pacotes de pipoca e das garrafas de água e o consumidor, no refresco do seu ar condicionado, apenas se dão bem nesse comércio. 

Mas quem está no carro se acostuma e as “autoridades” não acham que mexer nesse vespeiro vai lhe render votos, ainda mais com o eleitor acostumado com essa realidade. 

Ocorre que há um detalhe nesta aceitação de crianças vendendo pipoca doce e água nos semáforos: A cor da pele delas é preta, todas tem feição de gente sofrida, estão com roupas gastas… Por isso o espanto, como vi nesta segunda-feira, quando quem está vendendo água e pipoca doce são duas meninas pré-adolescentes, brancas, cabelos lisos de nascença, loiras, roupas boas, pés limpos no chinelo novo. 

Destoou do que o motorista no ar condicionado está acostumado. Fato ocorrido na marginal rodovia Raposo Tavares, quando o tráfego pára no semáforo organizando quem vai a Sorocaba ou Votorantim.

Essas meninas brancas se sujeitando ao que meninos pretos fazem são exemplos escancarados do chamado Racismo Estrutural.

A saber, segundo o dicionário, o racismo estrutural é o racismo que está presente na própria estrutura social. Segundo essa concepção, o racismo não seria uma anormalidade ou “patologia”, mas o resultado do funcionamento “normal” da sociedade.

O motorista no ar condicionado vê como normal o preto naquela situação, mas se assusta quando é uma branca, loira e “bonita”.

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