Reclusa e conservadora

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A morte da professora Filomena Magda Racca, a dona Magda, aos 82 anos, ocorrida na última quarta-feira, colocou fim à vida de quem se dedicou à retaguarda da atividade do jornalista de jornal, garantindo que o que fosse impresso estivesse absolutamente de acordo com a norma culta da Língua Portuguesa.

Ela passou sua vida no Diário de Sorocaba, jornal onde eu tive uma brevíssima experiência ao levar para lá o projeto Sorocaba 2000, publicação envolvendo um tema que sempre me interessou: A preservação da qualidade de vida da cidade em paralelo ao seu simultâneo desenvolvimento. O último Censo, indicando que a cidade ganhou 250 mil habitantes em menos de uma década, atesta que minha preocupação não era vã.

Nem mesmo nesse período eu me encontrei com ela. Mas, estando no concorrente, eu sabia de seu belo trabalho. E a quantidade de jornalista, após o anúncio de sua morte, relatando experiências tão ricas com ela me dão a certeza de que ela tem garantido seu lugar na história da imprensa sorocabana do século 20.

Dona Magda foi defensora da nossa língua e conservadora nos costumes. Ela não tolerava as poucas roupas das moças, por mais que essa fosse a moda. Não admitia a lascívia e insinuações tão evidentes nas novelas da televisão. Não concordava com extravagâncias. E dizia isso na cara das pessoas o que quase sempre lhe garantia desafetos. O que pouco lhe importava.

Arredia a fotos, dona Magda vivia reclusa de qualquer evento social. Não ia a bares. Não se misturava à boemia tão comum aos jornalistas, tão pouco à fumaça ou bebida.

Nada disso impediu ela de ser das pessoas mais generosas que uma leva de jornalistas conheceu. É responsabilidade dela que muitos tenham se firmado na profissão e feito carreira em importantes veículos de expressão nacional como o jornal O Estado de S.Paulo.

Católica fervorosa, dona Magda teve o reconhecimento da igreja por seu trabalho e dedicação às orientações da Igreja.

A orelha do livro “A História de Julieta Chaves – A ‘Santinha’ de Sorocaba” resultado de dois anos de pesquisas, entrevistas e elaboração de texto de Carlos Carvalho Cavalheiro e Flávia Aguilera, é de autoria de dona Magda.

É também dela a revisão do livro “A Arte de Sacra de Bruno de Giusti – Comunicação e cultura na Catedral de Sorocaba”, ensaio sobre a obra do pintor ítalo-sorocabano Bruno de Giusti, que concilia a erudição da Escola de Belas Artes de Veneza, na Itália, com a cultura popular da região de Sorocaba, retratada nos 50 do século XX.

A produção do próprio texto, embora rara, também fez parte da vida de dona Magda. É de sua autoria o ensaio “Produção de Texto: O Processo é Realização do Júri”, de 1987, quando ela lecionava na Escola Estadual Arquimínio Marques da Silva. Seu sepultamento ocorreu ontem.

PS – A foto que ilustra esta publicação é um recorte que fiz de uma self do jornalista Jota Abreu, seu amigo, onde eu soube primeiramente de sua morte.

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