Relacionamento ruim

Compartilhar

Eu e o Violino, um dos dois gatos que mora em casa, estamos nos estranhando. Com o Nicolau, o outro gato, nossa relação segue como sempre foi, ou seja,  cada um na sua.

Eu limpo os potes, coloco ração e leite e eles me olham de longe.

Eu não os chamo. 

Mas a nossa situação, do Violino e minha, piorou muito desde que sua dona, minha neta, se mudou.

Quando ele entra em casa, fica parado na porta do quarto da minha neta. Agora, só parado. Nos primeiros dias, parado, miando e arranhando a porta.

Eu grunhia. Ele parava e desacorçoado ia embora.

O que estava ruim piorou muito na sexta-feira passada na hora do almoço. Eu havia chegado na quinta à noite em casa. Coloquei comida e ele não apareceu. Eu deveria ter desconfiado do seu sumiço, mas não me importei. Como cheguei depois da hora dele comer, pensei que ele havia se virado em outro canto.

Na sexta, saí cedo. Quando cheguei na hora do almoço de sexta-feira ele miava desesperado e então abri a porta do quarto da minha neta e o mardito havia feito cocô em cima da cama.

Cheiro horrível de amoníaco! Ele correu a casa inteira e eu atrás dele, praguejando. Então abri a porta para rua, mas ele só foi até lá quando eu estava bem longe do seu caminho. 

E assim passamos a tarde. Muito distantes. Ele arisco a cada movimento meu que ele pudesse achar que era para pegá-lo.

Tirei lençol e fronha e botei de molho na cândida. Sei que vou levar xingo porque vai manchar. Mas não havia o que fazer. 

O Violino é cheio de nhenhenhe. Não pode comer qualquer ração que fica se coçando. Só come quando quer. Se o leite está gelado ele não bebe. Se coloco um pouco de água no leite, ele também não bebe.

Quando ele era bebezinho, subiu numa árvore gigantesca que tem no terreno defronte minha casa. E não conseguiu descer. E seu miado fraquinho vinha de longe. Minha neta incomodada com o sumiço dele e eu incomodado com a dor da minha neta até que já era noite vimos ele no alto da árvore. Impensável que eu pudesse subir. Perigo real de acidente. Liguei para o bombeiro e a resposta foi que naquele horário, deveria ser 19h, não havia ninguém para o tipo de serviço. Resultado, o vigia da rua subiu. E de longe alcançou o Violino, mas não tinha como carregar ele para descer. Então, de uma altura de mais de dez metros, ele jogou o gato para eu agarrá-lo. Fiz uma espécie de cama com um pano no meu colo e o gato chegou são e salvo no chão. Claro que eu fiquei com uma marca. Na queda ele arreganhou suas unhas e uma me cortou de leve, a ponto deixar uma cicatriz que tenho ainda hoje. É uma unha mais afiada do que qualquer navalha.

Violino foi morar em casa meses depois da Greta ter sido morta por cachorros invasores numa madrugada. Eu sempre me dei bem com ela. O que nunca consegui com o Violino. Mas, vamos tocando. Num relacionamento estremecido, como agora, ou quem sabe, no futuro, mais amistoso.

Para onde minha neta se mudou, só é possível ter um bicho. Ela escolheu um gato, o Nicolau.

Comentários