A supremacia dos algoritmos nas atitudes, preferências e gosto das pessoas nas redes sociais migrou também, sendo determinante, ao ambiente social, econômico, ambiental e religioso. Esse fenômeno é o que há de mais significativo neste século 21.
Ser contemporâneo é se proteger em guetos (religião, sindicato, panelinhas no local de trabalho, condomínio e vizinhança ou numa organização social, econômica, ambiental…).
Não estar protegido sob alguma dessas irmandades significa falar sozinho (ignorado) ou ser atacado (o que não é muito melhor do que ser ignorado).
Não há vida fora das bolhas.
Não há conversa entre membros de bolhas diferentes.
Ser da bolha é reconfortante na medida em que o outro da bolha aprova o que você faz, pensa e diz. Não só nas redes onde está institucionalizado o curtir (dedão) ou amei (coraçãozinho), mas no ambiente real, também, seja no cotidiano, no trânsito, no transporte público, no trabalho, no bar…
Dias atrás me choquei com a veementemente resposta de uma pessoa quando lhe disse que ela falava de Deus como se Ele fosse alguém de carne e osso, com quem ela conversasse literalmente, não em pensamento ou oração, ou seja, na subjetividade, e ela me disse: Deus comanda minha vida, siiiiim! E faço o que Ele manda.
Não se tratava do simbólico, era literal. Não era uma pessoa com alucinações, mas professora da rede pública.
Com outra, falei o quanto me ofende as músicas do sertanejo do agronegócio e ouvi: Você é elitista, arrogante e preconceituoso.
Garanto que a forma foi muito mais violenta do que o sentido desses xingamentos.
Por que não é possível odiar esse agronejo, essa estética grotesca?
Um amigo me aconselhou a me retardar. Eu, na hora, disse: O quê? Não entendi. E ele: Entendeu. Você precisa ficar um pouco retardado…
Então ele me deu como exemplo uma mulher que já ganhou mais de 1 milhão de reais vendendo um curso na internet sobre “Gratidão” por 97 reais ou 10 parcelas de 9,70. O mais absurdo do curso é ele garantir o determinismo do retorno, ou seja, se você for grato será recompensado. Se não está sendo é porque não é grato o suficiente.
Um outro, me informou meu amigo, botou uma bolada dessas no bolso, de 1 milhão, mas está agora tendo problemas com o YouTube, que identificou que ele mente, ao dizer que o arrependimento cura o câncer.
Mas quem paga para ouvir tanta idiotice? Eu ri da cara do meu amigo. Que riu da minha. E quando saí andando ele falou um pouco mais alto: Esqueça o que você sabe, não vale mais nada. E insistiu: O que custa ficar um pouquinho retardado?