Vou na física…
Me lembro de dizer isso à minha mãe ao sair de casa à tarde, quando tinha 11 ou 12 anos, para lhe deixar tranquila sobre minha ausência.
Eu estudava de manhã as matérias de sala de aula e à tarde tínhamos ginástica e prática de algum esporte, no geral, basquete, handebol e vôlei embora sempre tudo terminasse em futebol de salão, que era em quadra aberta, embora houvesse dias com corrida, salto em distância e arremesso de peso.
Aos 14 anos fui fazer o 2° grau à noite e quando recebemos o mapa das aulas fiquei intrigado. Havia Física entre aulas de Português e Geografia.
Então descobri o que ignorava completamente: A Física como Matemática, a Física como Lógica, a Física como filosofia… Física é entropia; corpo e espaço; velocidade, direção, força, reta, curva…
Eu fui ótimo aluno de Física. Muito melhor do que de Língua Portuguesa. Muito melhor do que em Gramática. Melhor do que em Redação. Poderia ter escolhido uma carreira em Física. Mas eu precisava escrever e estou aqui até hoje.
Me lembro do Gaúcho, um amigo na Vila Santana, alguns anos mais velho, um dos primeiros a comprar moto, me explicando na primeira vez que me deu carona, como eu deveria me comportar na garupa dele: Grude em mim. Encoste seu peito nas minhas costas. Acompanhe o movimento do meu corpo. Não desgrude senão a gente cai, disse ele.
Era tarde da noite e estávamos na granja do Marcos, irmão do Mário, filho do Ivan. A luz da moto não era suficiente para iluminar a rua de terra. Quase caímos algumas vezes.
Não é fácil ser garupeiro! Quando se gosta de Física fica mais fácil entender o que disse meu amigo.
Por que estou dizendo tudo isso?
Porque vi dois adolescentes se espatifarem de moto na tarde de quarta-feira na avenida Américo Figueiredo. O piloto e seu garupa fugiam de dois policiais militares que os perseguiam em suas motocicletas. O piloto em fuga brecou bruscamente ao ver um terceiro policial de moto a frente, pois ele havia cortado caminho na contramão. O garupeiro não cumpriu a regra de manter seu peito grudado nas costas do piloto. Ele primeiro foi pra frente, depois pra trás e novamente pra frente com muita força batendo com a sua testa na nuca do piloto. O garupeiro se mantinha sobre a moto com a força de seus pés e pernas. O piloto entrou na guia numa velocidade incompatível para uma curva de 90° e a moto pulou toda torta sobre a calçada. Os dois ficaram inertes no chão.
Vi um policial, o primeiro a descer de sua moto, balançando a cabeça em sinal de desgosto. Talvez tenha pressentido a gravidade física dos meninos. Ou só lamentou que dois meninos com toda uma vida de oportunidades estejam nessa vida de delitos. Os dois, certamente, não fizeram nada de bom para estarem fugindo da polícia.
Se aquele menino tivesse frequentado a aula de Física ele não estaria na velocidade em que estava para subir na guia da sarjeta da forma como tentou e o garupeiro não teria sido tamanho contrapeso ao piloto.
Se aqueles meninos tivessem uma formação melhor…
Se houvesse mais clareza nas oportunidades de trabalho…
Se a arte fosse mais acessível…
Se isso ou aquilo…
Se…