Ao contrário da sessão de cassação do prefeito Crespo em 2017, que mobilizou expressiva parcela de sorocabanos, na votação de hoje de manhã da vice-prefeita, Jaqueline Coutinho, praticamente não havia audiência. Sessões normais chegaram a ter mais público do que a sessão de hoje.
Também ao contrário daquela cassação, a de hoje durou também menos do que outras sessões normais. Em 2017 a votação aconteceu por volta das 21h, a de hoje por volta das 13h19.
Dois quesitos previstos no Decreto nº 201/67, que dispõe sobre a responsabilidade dos prefeitos, foram analisados pelos parlamentares, com a mesma votação para ambos: se a vice-prefeita se omitiu ou negligenciou na defesa de bens, rendas, direitos ou interesses do Município e se procedeu de modo incompatível com a dignidade e o decoro do cargo.Após a votação, o presidente da Câmara Municipal, vereador Fernando Dini (MDB), proclamou o resultado, lavrou a ata da sessão e anunciou o arquivamento do processo.
Como foi a sessão
No início foi realizada a leitura integral do parecer final da comissão processante. Presidida pelo vereador Luís Santos (Pros), tendo como relator Anselmo Neto (PSDB) e como membro o vereador Engenheiro Martinez (PSDB), a comissão apurou a denúncia de que a vice-prefeita teria utilizado para fins particulares serviços de um servidor do Saae (Serviço Autônomo de Água e Esgoto) em horário que ele deveria cumprir expediente na autarquia. A comissão entendeu que houve infração político-administrativa por parte de Jaqueline Coutinho e sugeriu a aprovação do pedido de sua cassação.
Após a leitura do parecer final, os vereadores fizeram uso da palavra. O vereador Francisco França, como líder da bancada do PT, observou ter ficado comprovado, pelo trabalho da comissão, que a vice-prefeita fez uso de servidor público para fins particulares. “Em que pese o respeito que a bancada tem pela pessoa da vice-prefeita, entendemos que a apuração foi bem-feita e produziu-se um relatório consistente, robusto. Pode até ser uma pena pesada, mas a bancada vai votar pela cassação”, afirmou.
Rodrigo Manga (DEM) disse que a vice-prefeita não foi acusada de nenhum crime grave contra a administração pública, como “desvio de dinheiro da merenda”, e observou que a Câmara vai antecipar uma decisão de um caso que ainda está sendo julgado pela Justiça. Disse também que “o Decreto nº 201/67 é antiquado e não dispõe de outras ferramentas para se fazer esse julgamento, não oferecendo outras formas de penalidade que não a cassação”, por isso, posicionou-se contra a cassação do mandato da vice-prefeita. O vereador Hudson Pessini (MDB) observou que a vice-prefeita não está afrontando os vereadores nem a população e disse que não houve dolo na conduta imputada à vice-prefeita.
Cíntia de Almeida (MDB) afirmou que faltou maturidade política em relação aos conflitos envolvendo o prefeito e a vice-prefeita e disse que “Sorocaba está num Centro de Terapia Intensiva”. Observou que, por uma questão de prudência, a vice-prefeita deveria ter dispensado os serviços do servidor. Também disse que o diretório estadual do partido recomendou à bancada que acolha o parecer da comissão processante. Irineu Toledo afirmou que a vice-prefeita tem uma “conduta ilibada” e disse que, “se não houver provas claras como a luz”, votará contra a cassação de qualquer mandato, por uma questão de Justiça. “Não estou deixando de dar valor ao trabalho da comissão processante, mas o caso ainda está sendo julgado pela Justiça”, ressaltou.
Luís Santos disse que os membros da comissão processante não tiveram nenhuma satisfação ou prazer em realizar seu trabalho e que o relatório final foi feito “dentro do mais restrito cumprimento do dever”.
Já Fernanda Garcia (PSOL) criticou a “troca de favores” na administração pública, lembrou que seu partido, quando votou pela cassação do prefeito, há quase dois anos, não ocupou nenhum cargo na gestão de Jaqueline Coutinho como prefeita. “Toda irregularidade tem de ser denunciada e combatida. As provas são claras e graves, por isso voto pela cassação”, afirmou.
O presidente da Casa, vereador Fernando Dini, sem entrar no mérito das acusações contra a vice-prefeita, fez a defesa do trabalho do Poder Legislativo e parabenizou a Comissão Processante e o corpo jurídico da Casa pelo trabalho realizado, destacando a trajetória e a experiência parlamentar de cada um dos membros da comissão. Dini criticou a conduta dos que “buscam o poder pelo poder, colocando intrigas políticas e interesses pessoais acima dos interesses da cidade”, lamentou que o Legislativo seja obrigado a discutir reiterados pedidos de cassação de mandato, quando poderia estar discutindo políticas públicas, e foi enfático: “Não estou dizendo que votem para cassar ou votem para absolver. Peço que cada um, de acordo com a própria consciência, faça o que tem que ser feito”.
Defesa da vice-prefeita
O advogado de Jaqueline Coutinho, Haroldo Fazano, disse que não há provas contra a vice-prefeita, alegou que houve cerceamento da defesa ao indeferir uma testemunha e enfatizou que não houve dolo por parte dela, uma vez que ela acreditava que o servidorlhe prestava serviços no horário de almoço. “Devemos aplicar no caso o princípio da razoabilidade e da proporcionalidade, muito embora não exista fato nenhum pelo qual ela pode ser responsabilidade” – enfatizou o advogado.
Em seguida, Jaqueline Coutinho ocupou a tribuna e afirmou que nenhum dos depoimentos colhidos pela comissão processante confirmam que ela tenha utilizado serviços do referido servidor no horário do expediente. Jaqueline Coutinho acrescentou que não tinha controle ou supervisão sobre o funcionário, que ele não estava sob sua subordinação e que ela nunca obteve qualquer vantagem que pudesse causar prejuízo ao erário.
Placar da votação
Sete vereadores votaram contra o relatório da Comissão Processante da Câmara de Sorocaba, salvando o mandato da vice. Treze votaram a favor, mas eram necessários 14 votos.
Veja como votou cada vereador:
Anselmo Rolim Neto (PSDB) – Sim
Cíntia de Almeida (MDB) – Sim
Hélio Mauro Silva Brasileiro (MDB) – Sim
José Francisco Martinez (PSDB) – Sim
Francisco França da Silva (PT) – Sim
Fausto Salvador Peres (Podemos) – Sim
Fernanda Schlic Garcia (PSOL) – Sim
Fernando Alves Lisboa Dini (MDB) – Sim
Hudson Pessini (MDB) – Não
Iara Bernardi (PT) – Sim
João Donizeti Silvestre (PSDB) – Sim
José Apolo da Silva (PSB) – Não
Péricles Régis Mendonça de Lima (MDB) – Não
Irineu Donizeti de Toledo (PRB) – Não
Luis Santos Pereira Filho (Pros) – Sim
Renan dos Santos (PCdoB) – Não
Rodrigo Maganhato (DEM) – Não
Antonio Carlos Silvano Júnior (PV) – Não
Vitor Alexandre Rodrigues (MDB) – Sim
Wanderley Diogo de Melo (PRP) – Sim
Os vereadores Péricles Régis e Hudson Pessini foram contra a orientação do MDB de votar a favor da cassação. Isso abre o precedente para que eles possam vir a ser cassados, perdendo a legenda.