Simpatizante de Bolsonaro e vereadores do PT entram em atrito

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O polêmico ator Alexandre Frota – que está em Sorocaba para dar seu depoimento de ex-viciado (ele deixou de usar cocaína em 2007), na sede do Cadq (Centro de Atenção ao Dependente Químico), na noite desta quinta-feira – se envolveu em um atrito na sessão da Câmara de Vereadores na manhã de hoje.

Simpatizante do candidato de extrema-direita à presidência da República Jair Bolsonaro, o polêmico ator (que foi cotado para ser ministro da Cultura num eventual governo de Bolsonaro) foi alvo de críticas da sorocabana Denise Camargo, ativista dos movimentos feministas e negro, que se manifestou após Manga convidar Frota para participar da mesa diretora e utilizar da tribuna. Ela ressaltou que o ator era machista, preconceituoso e não deveria estar na cidade, já que se autointitula estuprador.

Denise Camargo estava na assistência da Câmara com um grupo para acompanhar a denúncia de sexismo contra o vereador Hudson Pessini feita pelo Conselho Municipal da Mulher a partir de uma gravação de teor contra a ex-secretária do prefeito Crespo – leia postagem a seguir.

O ator (que tem em seu histórico denúncia de agressão contra as mulheres) reagiu com veemente jocosidade contra a manifestante e a vereadora Iara Bernardi (PT) tomou as dores delas. Bastante nervosa e claramente irritada com a postura de Alexandre Frota, Iara mandou ele deixar a tribuna. O ator reagiu novamente com mais jocosidade e ironia e foi a vez de França, também do PT, partir para defender a colega e mandar Frota sair. O ator (que já foi lutador de jiu-jitsu) falou para França ir tirar ele e a partir daí foi uma troca de acusações: cala a boca, eu não sou da sua laia, não vai botar o dedo na minha cara, não sabia que você era meu fã, idiota é você.

Evidentemente, na minha interpretação, que o fato da figura de Alexandre Frota significar Jair Bolsonaro pesou na irritação e reação dos vereadores do PT – tanto que vereador de nenhum outro partido reagiu na mesma proporção dos vereadores petistas. A 67 dias das eleições, a tolerância dos simpatizantes da esquerda e da extrema-direita inexiste. A manifestação das mulheres na Câmara (que não era em razão da visita de Frota, pois não houve divulgação de que ele iria lá) foi apenas o estopim do atrito. Ele foi intolerante com a mulher que não tolera (e ainda bem) que ele se intitule estuprador e pose como se isso fosse algo a ser tolerado. Em que pese a causa nobre e boa intenção do presidente da Câmara, a figura de Frota, por si, para muita gente significa um insulto.

Vício em cocaína

O Cadq (Centro de Atenção ao Dependente Químico) é liderado pelo vereador Manga, que é missionário da Igreja Mundial e também ex-viciado e vê a superação de Alexandre Frota como exemplo a quem hoje sofre com a dependência.

“Usei cocaína por 13 anos. Estou limpo desde 2007 e procuro mostrar isso de uma maneira real. Por conta disso, perdi muito dinheiro, muitas oportunidades. Perdi o sorriso, a cocaína te faz perder o sorriso, a família, os amigos. Vira um zumbi, um lixo. Só tinha à minha volta quem cheirava. Mergulhei no inferno em São Paulo”, conta frota, que está prestes a lançar um livro contando passagens de sua vida envolvendo o uso de entorpecentes.

Desde abril deste ano, o Cadq atua de forma gratuita e pioneira em Sorocaba na atenção ao usuário de drogas. Após saber dessa iniciativa, Frota ficou curioso para conhecer a iniciativa e contribuir com o projeto. “Quero participar de uma atividade e falar com os usuários, mostrar que há meio de mudar de vida, desde que a pessoa esteja disposta. E o Cadq encoraja isso”, diz.

O convite para ele vir a Sorocaba partiu de Rodrigo Manga: “Alexandre Frota é uma personalidade que conviveu em meio às drogas e conseguiu sair vivo disso tudo. Só quem viveu esse inferno sabe o que é o vício nas drogas. É uma realidade que atinge todas as classes sociais. Contando sua experiência, Frota pode servir de motivação extra para muita gente que quer mudar de vida”.

Presidente lamenta

O presidente da Câmara de Sorocaba, vereador Rodrigo Manga, que convidou Frota para ir à Câmara, divulgou nota oficial sobre o episódio classificando como lamentável o que aconteceu na sessão de hoje.

A nota lembra que o apoio ao dependente químico é uma das bandeiras políticas de Manga e ele convidou o ator Alexandre Frota para estar na Câmara e falar de como se livrou do vício em drogas, o que pode inspirar muitas pessoas a mudarem de vida também.

Os vereadores aprovaram em plenário que Frota fizesse uso da Tribuna e, a partir de manifestação de uma pessoa na assistência, na galeria, o foco do assunto em destaque foi desvirtuado, inclusive com posterior bate-boca e troca de ofensas verbais entre Frota e os vereadores Iara e França.

A nota afirma que Manga, como presidente, suspendeu a sessão, com o objetivo de apaziguar a situação e acalmar os ânimos. Optou também por não solicitar que o convidado se retirasse do plenário, uma vez que, antes, o mesmo também não foi exigido da munícipe que iniciou os ataques.

O presidente irá conversar com os vereadores envolvidos no episódio, para decidir se será necessária alguma ação legislativa.

“Lamentamos qualquer tipo de discussão e que o assunto da dependência química tenha perdido espaço para discussões de ordem político-partidárias. O caso foi um desrespeito, sobretudo às famílias que acompanhavam o pronunciamento do ator e que têm alguém sofrendo com o vício nas drogas. Ao menos, o recado foi dado, de que é possível se recuperar e deixar a dependência química”, finaliza Manga.

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