Não poupei elogios à presidente Dilma quando ela escolheu Renato Janine Ribeiro para ser o ministro da Educação. Acreditei que nesta que é a área capaz de mudar o Brasil a presidente faria uma blindagem, deixando-a livre da politicagem feita em tal da governabilidade. Para a edição de abril da revista Showroom escrevi o artigo abaixo, onde externava o motivo de ter depositado tamanha fé de que pela primeira vez em anos alguém estava tendo a coragem de mexer onde se deve mexer. Obviamente que a demissão de Janine para acomodar o político Mercadante me frustra.
Mas que fique claro: mesmo que eu esteja engrossando o coro “Diiiilma, buuurrrraaaa!!” não mudei em nada minha opinião de que qualquer processo de impedimento da presidente tem de ser de caráter técnico, de respeito a Constituição. Repito, minha posição não é uma defesa do PT. E o fato de entender que Dilma errou feio ao demitir Renato Janine não significa que aceite e compreenda a medíocre política que vem sendo feita pelos tucanos nesta questão do impeachment.
Na quarta-feira, na coluna O Deda Questão na rádio Ipanema (FM 91,1Mhz), ao saber que o ministro da Saúde tinha sido demitido para que a vaga fosse dada ao PMDB, a um amigo de Renan que foi financiado por planos de saúde e laboratórios, brinquei que esse de fato era um bom motivo para o impeachment de Dilma. Brinquei, pois a Constituição afirma que a presidente escolhe o que faz. Mas que é humilhante essa situação, isso é.
Fosse um regime parlamentarista e Dilma (o governo) já estaria fora diante de repetidas desaprovações da forma como ela vem conduzindo o Brasil, a economia e seu governo. Mas é um regime presidencialista e o brasileiro assim quis quando alguns anos atrás foi consultado sobre que tipo de regime queria para o Brasil. E quis o que temos hoje.
A seguir o artigo que escrevi para a revista:
Abro algumas vezes por dias as páginas da Internet dos principais portais do Brasil, um hábito de muitos outros brasileiros, e seguramente na última década nada do que está ali me surpreendeu. Nem para o bem e nem para o mal. Sempre é algo esperado, previsível, corriqueiro. Operações da Polícia Federal de nomes cada vez mais didáticos, acidentes aéreos, conflitos, demissões, quedas do dólar e da bolsa… enfim, conflitos político, econômico, social. É crise que não acaba mais. Ou seja, o Brasil está dentro de sua normalidade.
Mas uma semana antes da Páscoa, confesso, me emocionei com um ponto completamente fora da curva: a nomeação de Renato Janine Ribeiro para o ministério da Educação. Esse é um fato que merecia a musiquinha (que com o advento da Internet caiu em absoluto e total desuso) da Rede Globo interrompendo sua programação normal para anunciar ao Brasil algo absolutamente novo para a maioria dos cidadãos. Obviamente que todos sabem de que música estou falando.
A escolha de Renato Janine Ribeiro para o Ministério da Educação é, guardadas as proporções, como se o meu Palmeiras (que está dando uma lavada em todo mundo no quesito sócio-torcedor apenas, mas perde em títulos e glórias recentes para qualquer outro time grande) anunciasse a contratação de Messi para assumir o cérebro do time já na reta final do Paulistão. Talvez existam outros nomes de peso para ser ministro da Educação do Brasil, mas seriam o equivalente a Neymar, Ybrahimovic, Cristiano Ronaldo, nunca um Messi. Enfim, Renato Janine Ribeiro é o Pelé, claro que existem Garrinchas, Maradonas, Ademir da Guia, Rivelinos. Mas Pelé é Pelé.
Dilma, a presidente que não tem medo de cara feia, (e só ao dizer isso o novo secretário chefe da Comunicação do gabinete da presidência, Edinho Silva, já contribuiu com a imagem do governo mais do que o seu antecessor em quatro anos de mandato) não vai fazer verão com uma andorinha só. Mas enche de esperança que o país vai, verdadeiramente, colocar em prática o que qualquer cidadão brasileiro apenas acreditava que se tratava de mais um slogan de um político: Brasil, Pátria Educadora.
Assim como Messi não joga sozinho na seleção da Argentina, Renato Janine Ribeiro não terá condições de fazer o Brasil avançar se não tiver apoio total e irrestrito da presidente Dilma e dos ministros que hoje tentam recolocar o Brasil, do ponto de vista econômico, no seu lugar de destaque no quesito desenvolvimento, produção de riqueza, de emprego e de capacidade de inovação. Este é o ponto, creio eu, central da atuação do novo ministro.
A globalização, a grosso modo falando, significa reproduzir em escala o que alguém já inventou. Apenas a tecnologia (e ai eu enquadro a inovação) pode dar um caminho novo, portanto nunca antes trilhado, para uma nação. Renato Janine Ribeiro sabe disso como conhece a palma da sua mão. E ele assume num momento em que a mídia centrava toda sua narrativa apenas na catástrofe política, no desespero das relações institucionais, na ladeira abaixo com que caminha a economia. Tudo previsível, mas coisas desalentadoras. Renato Janine Ribeiro chega e obriga a todos a darem um Epa!
Talvez nem Dilma tenha tanta fé em Renato Janine Ribeiro, mas seu maior legado momentâneo é o de obrigar a mídia a ver os fatos de uma maneira que produza uma outra narrativa, não tão catastrófica. Por isso Renato Janine Ribeiro precisa, em pouco tempo, mostrar a que veio e, confesso, desejo profundamente que ele coloque um fim na tristeza e no pessimismo que dominam expressiva parcela dos brasileiros. Precisamos mais do que esperança. Precisamos de um Brasil a caminho da inovação. Cada aluno, seja na escola infantil ou na universidade, precisa entender o seu papel de criar e não de ser mero reprodutor. Só assim o Brasil vai crescer com a qualidade de vida que se deseja, preservando o meio ambiente, e avançando na produção de riqueza. Quem subiu um degrau na vida, sabe o quanto dói ser obrigado a descê-lo. Ministro, sucesso. Afinal o seu sucesso, será o nosso.