Compartilhar

Não faço ideia de quem seja a jovem que se jogou na frente do ônibus, desses articulados, na noite de sexta-feira, na avenida Imperatriz Leopoldina, em São Paulo. Ela aparentava ser estudante. Três faculdades estão instaladas naquele trecho da avenida. Talvez ela tenha sido empurrada. Ou tropeçado. O fato é que ela estava na frente do ônibus e… Nada, absolutamente nada, lhe aconteceu. 

Ela se levantou constrangida do asfalto e apressou o passo sozinha na calçada escura como se tivesse somente atravessado a avenida na faixa. O que não ocorreu. 

A presença súbita daquela moça na frente do ônibus teve consequências…

Primeiramente o motorista parou o trambolho bruscamente e o largou no meio das duas faixas de veículos. Desceu atarentado e foi logo me dizendo: Aquela moça é louca, e apontou à distinta que apertava o passo, se jogou na frente do ônibus. Eu freei, mas ele puxou para cá… Eu te acertei? Eu respondi que não. Ele uniu as duas mãos e levantou a cabeça em direção ao céu, um claro gesto de agradecimento.

Ele não ter me acertado não me impediu de bater meu carro, muito de leve, numa moto parada em local impróprio e proibido. Ela esparramou no chão. 

Victor, ele me disse seu nome quando se acalmou, começou a gritar comigo: Você acabou com a minha vida… Eu uso a moto pra trabalhar… Eu pago aluguel… Eu tou pagando a prestação dela ainda… Então ele proferiu: Você tá louco mano, como bate numa moto parada?

Victor estava dentro do bar onde foi pegar a encomenda para fazer o seu trabalho de entregador. Ele é empreendedor de aplicativo.

Então foi minha vez de perder a paciência: Você está equivocado, pois não sou e nem estou louco. A moto estava parada onde não podia e o ônibus veio para cima de mim… 

Se a moça não se joga… Se o ônibus não puxa para cima de mim… Se eu passasse 1 minuto antes ou depois… Se… 

Então ele começou a entender que eu também era vítima, mas me disse: Mano em perdi o fim de semana com isso. Não posso ficar sem trabalhar… 

Victor, vamos nos entender. Não quero te prejudicar.

Foi o que consegui dizer. Surpreendentemente eu estava calmo. Lhe assegurei que não fugiria.

Passamos o sábado trocando mensagens por WhatsApp. Ele apresentou um orçamento de um mecânico vizinho dele. E foi atrás de um orçamento na concessionária.

Victor é vítima da atitude inconsequente daquela jovem universitária que saiu do local apertando o passo… Eu também fui vítima dela. A pessoa que ficou esperando seu lanche e não recebeu… Mas o que é a vida senão a sucessão de fatos incontroláveis, imprevisíveis e acidentais? 

Fico pensando: Que dor sente a moça para ter entrado na frente de um ônibus em baixa velocidade? Quisesse mesmo se matar ela teria se jogado na frente de um em alta velocidade. Ou de um trem, a estação da CPTM fica apenas alguns metros a frente.

Comentários