Estou a olhar para ele que ergue da mesa até a boca uma caneca branca de louça.
Imagino que seja café com leite que é o que mais se bebe no meio da tarde, como agora.
Sou capaz de afirmar que está muito mais gordo do que há alguns anos.
Percebo que ele exibe uma confiança que não tinha.
Atualmente é um famoso editor. Sua capacidade profissional de como apertar os botões lhe abriu o horizonte e o que não lhe falta é oportunidade de trabalho.
Ele toca baixo numa banda local de jazz. Sei que ele é separado. Sei que sua ex é homossexual. Sei que tem filhos grandes e dinheiro para fazer de qualquer lugar apenas um para chamar de seu. Nesse momento, em que lembro tudo isso, ele se levanta e estampa um largo sorriso. Dá para ver os ótimos dentes. Desses tratados em dentistas estéticos.
Enquanto penso tudo isso ele vem em minha direção. Estica as mãos e recebo um firme cumprimento. Ele me chama de mestre. Falamos que está tudo bem. Ele posa a mão em meu ombro com carinho e intimidade. Lembro de que ele sempre foi atencioso comigo. Mas nem assim me lembro do seu nome.
Esse tipo de esquecimento tem sido frequente.
Outro dia eu não me lembrava do nome tâmara quando queria indicar para um colega tâmaras israelenses da banca da Teresa no Mercadão Municipal. Banca King. Lá tem tâmaras israelenses de excelência. Mas não me lembrei do nome.
Como falar de algo com alguém se o nome que é o que aproxima a coisa daqueles que dialogam não é lembrada?
Vou embora da padaria. E o nome do meu amigo ainda me foge.
Que tortura!
Então me lembro de um ditado árabe que diz: “Quem planta tâmaras, não colhe tâmaras!”. Isso porque as tamareiras levam de 80 a 100 anos para produzir os primeiros frutos.