Tédio… e o primeiro café ao final do isolamento

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Pessoas importantes de Sorocaba, cujo o empreendedorismo de seus antepassados ajudou a construir a riqueza da família deles diretamente e a de Sorocaba indiretamente, com os impostos que recolheram e os postos de trabalho que geraram, saíram de seus grupos – onde sempre se manifestaram livremente – e ocupam a mídia (jornal, rádio e internet) para expor a preocupação econômica que o isolamento social está provocando em nossa sociedade.
Há um consenso de que passada a epidemia será necessário uma reorganização das relações de circulação de dinheiro, nem que de modo provisório, especialmente no que diz respeito aos prazos do que é pago ao governo. Os arautos da auto-ajuda se apropriaram há muitas décadas do idiograma chinês, que têm milênios, e simultaneamente significa crise e oportunidade. Essa interrupção da vida social vai provocar mudanças, só não se sabe o tamanho delas.
Há outra preocupação além da questão n° 1, que é sair vivo dessa pandemia, da questão n° 2, que é a reorganização econômica, e que vem antes dessas duas no meu entender: um reencontro conosco mesmo. Tenho recebido desde o início do isolamento, na semana de 20 de março, dezenas de relatos de amigos sobre como estão passando por estes dias fechados em casa. O tom inicial, de jocosidade, gradualmente foi cedendo espaço para o duro encontro de cada um consigo próprio.
Invariavelmente, esse encontro, descamba para o tédio. Ninguém se arriscou ainda a se distanciar, mesmo que por horas, dos confortos da tecnologia: luz elétrica, água encanada, benefícios eletrônicos que nos levam às relações virtuais. Ninguém ainda experimentou acordar antes do Sol e registrar o ponto de seu surgimento no horizonte e assim, como os homens da caverna, a observar a relação do ponto da Terra e o Sol e, assim, a marcar as estações do ano, o tempo das chuvas, o período de seca…
A civilização nasceu do tédio. Ser nômade (mudar de lugar atrás da comida) ficou tão entediante que surgiu a necessidade de se encontrar uma alternativa, no caso, a agricultura. Sim, o que fixou o Homem foi encontrar o necessário para sua subsistência num próprio e único local. Tudo que existe até hoje foi uma evolução da supressão de sua necessidade do local em que se fixou.
Isso leva à pergunta: uma nova civilização vai nascer do tédio que vivemos no isolamento social imposto à humanidade pelo Covid19?
Improvável. Ao menos neste momento, em que aparentemente, o isolamento tem prazo para acabar.
Na China, onde a pandemia começou, já se esboça um retorno à normalidade. Na Europa e Estados Unidos o ápice do ciclo do CoronaVirus está perto. Ninguém imagina mais do que 3 meses de pandemia. A 2° Guerra Mundial, o último grande evento planetário que mexeu com a Ordem, durou 7 anos e não foi capaz de estabelecer uma nova civilização. Não há nada que indique que o isolamento social de 90 dias terá esse poder. A não ser, como disse, o tédio de um reencontro conosco mesmo, sem tecnologia alguma, nem eletricidade ou água encanada. Mas nada, nada, nada indica que isso vá ocorrer. A crença é na retomada da vida, do ponto em que ela parou.
Isso tanto é verdade que a pergunta corrente é: com quem você vai tomar café ao final do isolamento? Ou melhor, o seu primeiro café?

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