João Ribeiro Chaves Neto, ou simplesmente Neto Chaves, faz parte da vida de parcela expressiva dos sorocabanos, como eu, que hoje estão na faixa dos 55 anos ou mais e, no final da década de 70, estavam na adolescência e se concentravam para cada um ver e ser visto, namorar ou apenas paquerar na praça 9 de Julho, ou melhor, na calçada de quem subia a rua 7 de Setembro, no centro de Sorocaba, e virava à direita em direção a descer a avenida Eugênio Salerno.
Neste endereço ficava a Lanchonete Balaio de onde nasceu, em 1978, o mais italiano dos buffets sorocabanos, o Balaio, sinônimo de qualidade em festas, eventos, celebrações. “Queremos emocionar as pessoas e realizar seus sonhos”, afirma Neto Chaves no site do buffet. Mas foi ele que emocionou Sorocaba, na noite de ontem, dia 5 de junho, quando teve anunciada sua morte. Seu corpo foi enterrado no final da tarde de hoje no Cemitério Pax.
“Hoje, o brinde da taça de espumante se faz soar em outra dimensão. TimTim à vida, a amizade e ao legado de vocês”, escreveu Lucas Negrão, conhecido repórter fotográfico que faz cobertura de festas e eventos em Sorocaba.
Vanderlei Testa, cronista da vida sorocabana e publicitário, em texto de homenagem a Neto, entre várias citações e lembranças, focou na sua competência: “Um dia distante na década de 80, Neto e sua equipe assumiu um desafio na empresa Siderúrgica Aparecida onde trabalhei. Realizou um churrasco para mais de cinco mil pessoas como se fosse para uma família.”
Eu fico com o registro que me foi confidenciado anos atrás por Marcos Aidar, geólogo, empresário bem-sucedido que fundou a Geoplan que veio a ser vendida ao grupo X de Eike Batista, e que em 1992, depois de ter sido importante secretário na Prefeitura de Sorocaba no governo de Flávio Chaves, coordenava a campanha a prefeito de Paulo Mendes. Foi a primeira eleição municipal com a propaganda eleitoral pela televisão, ou seja, alcance dos candidatos aos eleitores ficou total. E um nome novo surgia na política sorocabana, Hamilton Pereira – que a partir de 1994 foi eleito e reeleito para cinco mandatos consecutivos à Assembleia Legislativo de São Paulo – que no 2º turno daquela eleição liderava as pesquisas. Pela primeira vez o seu partido, o PT, iria assumir o comando da cidade (fato que não aconteceu naquele momento e nem uma única vez até hoje). Partido de esquerda, composto por pessoas sem tradição com a elite da cidade, restava uma última mobilização para reverter o quadro. A eleição era no domingo e na sexta-feira anterior, Neto Chaves entendendo aquele momento crucial dos rumos da política da cidade, não hesitou em abrir o seu buffet, na rua Almirante Barroso, para receber dezenas de empresários sorocabanos que estavam dispostos a impedir o avanço do PT. O clima tenso se dissipou quando chegou o resultado da pesquisa Gallup dando Hamilton 2 pontos a frente de Paulo Mendes. No calor da emoção, Paulo Mendes entendeu que sua derrota havia sido revertida, e ele estava à frente, e fez um dos seus mais entusiasmados discursos, contagiando o empresariado ali presente que contagiou o eleitorado e Paulo Mendes foi eleito por ínfima margem de vantagem.
Caso não abrisse seu buffet, Neto certamente teria contribuído para uma outra história, talvez, nunca se sabe. A cidade não é essa de hoje e não havia tecnologia capaz de organizar grupos de pessoas em pouco tempo. Provavelmente os empresários não se encontrariam em outro local tão em cima da hora e onde sentissem-se confortáveis em ir como se sentiam no Balaio. (Como se vê, o mesmo motivador – impedir a vitória da esquerda – levou em 2016 os empresários se unirem contra Raul Marcelo, ajudando e muito na eleição de Crespo).
Que a história de Neto fique viva e que o Buffet Balaio tenha vida longa nas mãos da Chef Zaira Dias que comanda a cozinha desde a sua inauguração, e hoje conta com a parceria de sua filha Manoella Chaves, que trouxe uma pitada de contemporaneidade às receitas. O Balaio ocupa lugar de vanguarda em Sorocaba e Região. E que assim seja.
Um brinde final ao Neto: “tim-tim”! Ou “chin-chin”, que não é apenas uma onomatopeia para o som de duas taças de cristal se tocando, mas, como ensinam os chineses é celebração. “Chin” significa “felicidade” e “chin-chin”, “muita felicidade”.