Na terça-feira coloquei um aparelho no braço conectado a pinos presos no meu peito. Foram 24 horas assim. É um exame chamado Holter.
Na quarta-feira, novo aparelho. Esse também no braço e também por 24 horas. Este se chama Mapa.
Na quinta-feira, ultrassom do coração, o ecocardiograma.
Hoje, sexta-feira, exames de sangue para verificação de dezenas de itens relacionados à gordura, açúcar e sei lá o que mais.
Uma vez por ano, há seis anos, eu repito esses exames. Por quê?
Doença do coração tem um componente genético bem acentuado. Muitas doenças são assim.
Meu pai, ainda com menos idade do que eu tenho hoje, colocou pontes de safena, não existia stendy, uma espécie de mola implantada nas veias obstruídas por gordura, o que impede o funcionamento normal do coração.
Um de meus irmãos já colocou também. E para precaver que eu também venha a ter que colocar, faço os tais exames e tomo remédios relacionados ao assunto.
Nunca senti nada, dor ou fadiga que pudesse indicar problemas. Mas prevenção é justamente para isso, para evitar o problema.
Tem dado certo. Embora eu abuse de gordura e açúcar e nunca ache que esteja exagerando. Não é o peso ou buraco na cinta que me alertam. Mas uma espécie de zonzeira. Aquela de quando a gente se levanta rapidamente depois de um tempo sentado ou deitado. Minha zonzeira eu chamo de labirintite, mas não é. Se fosse o problema seria no ouvido. É diminuir comida gordurosa, bebida e café para o problema sarar.
Outra rotina necessária é a musculação e natação. Fui religiosamente na ACM, 5 vezes na semana, desde o início da pandemia. Mas faz quase três meses que cedo à preguiça. O friozinho, claramente, ajuda na minha decisão diária de não me mexer.
Ler sempre é mais prazeroso que se mexer. Mas é excelente para a mente, não tanto para o corpo.
Por isso, logo voltarei a equilibrar as duas atividades em minha rotina. É uma decisão já tomada.
Esses cuidados indicam a boa saúde de corpo e alma pela qual passo. Ou seja, faço o necessário para não morrer precocemente ou esticar minha vida até o seu limite. Gosto de viver. Nunca tive a existência como um fardo.
Mas reconheço que não é assim para todos e, mais ainda, para muito adolescente. Um médico psiquiatra, bastante conhecido, me disse dias atrás que de cada 10 pessoas que entram em seu consultório 9 são adolescentes e desses 9, 2 pensam em se matar.
É um fenômeno no Brasil e no mundo. Esta onda de desgosto pela vida que afeta adolescentes é pouco estudada e ainda não despertou a atenção das autoridades em saúde ou política. Pelo menos não na medida necessária.
Soube de um caso horroroso ocorrido em uma cidade próxima nesta semana: O filho de uma médica, de sucesso, se matou aos 16 anos. A família chegou de uma viagem ao Mato Grosso na segunda-feira à noite. Mãe e filho curtiram com os pais dela, que são médicos e fazendeiros. Um monte de fotos nas redes. Foram pra casa, comeram pizza e ele foi dormir. No dia seguinte , a mãe bateu na porta, eles corriam juntos pela manhã, o garoto não atendeu e ela foi correr sozinha. Quando voltou, ele ainda não tinha saído do quarto. Ela abriu e ele estava enforcado no banheiro.
Num Posto de Atendimento, num bairro periférico, de gente pobre e trabalhadora, os médicos salvaram uma menina de 12 anos que tomou de uma vez só todos os comprimidos que encontrou na casa.
Uma moça linda, mãe de um menino de 9 anos, se enforcou no apartamento e uma mulher da rua olhou pra cima e viu o corpo perdurado.
É difícil para mim entender o desgosto pela vida, fenômeno que atinge pobres e ricos, meninos e meninas. Viver é prazeroso mesmo em meio a tantos atos insanos e de raro sentido.