O que poderia ser mais um fato corriqueiro de Sorocaba, um pedinte no semáforo, quase se transformou num problema, às 13h35, de ontem, terça-feira, na avenida Juscelino Kubitscheck, na rotatória da praça Dom Tadeu Struck e na avenida Dom Aguirre.
Ao parar o meu carro, vi um senhor no carro ao lado assustado com um pedinte. Abaixei o vidro, perguntei se estava tudo bem e o senhor me disse: Este rapaz, apontando ao pedinte, me disse que está há duas horas aqui, não conseguiu nada e disparou: Vocês estão me obrigando a roubar. O semáforo ficou verde e ainda pude ouvir o lamento do senhor do carro ao meu lado: A que ponto chegamos!
Fiz o retorno, subi a avenida e desci para me encontrar com o pedinte. Fiz a foto dele (que estampa esta publicação) e quis saber o que estava acontecendo. Ele estava com a face e olhos vermelhos, o que me fez sugerir uso prolongado de bebida alcoólica, mas poderia ser do Sol e cansaço. Como saber!
Eu, nestes tempos de Covid19, com medo de que alguma saliva do pedinte me atingisse, fiquei com o vidro do carro fechado. Ele estava sem máscara e, suponho, sentiu-se ofendido, o fato é que ele desferiu um murro na porta do meu carro (não no vidro) na parte que se junta ao teto do carro. O barulho me assustou, mas a cara de ódio dele me atormentou ainda mais.
Instintiva e inconsequentemente eu desliguei meu carro e de supetão saí com o braço armado para socar o pedinte. Um lampejo de bom senso, o que mais poderia ser, impediu que eu agisse. Com o coração acelerado entrei novamente no meu carro e fiquei ouvindo os desafios dele para que eu o enfrentasse.
Enfim o semáforo abriu.
Telefonei no 190 e relatei que o pedinte estava dizendo que se sentia obrigado a roubar alguém ali no semáforo uma vez que não estava conseguindo nada. A burocracia do preenchimento da minha reclamação me irritou um pouco. Não voltei lá para saber se apareceu alguma viatura ou se alguém foi vítima daquele pedinte agressivo.
O que já vinha observando e conversando com amigos é de como aumentou a quantidade de gente em condições de miséria perambulando pelas ruas. Isso é reflexo do Brasil onde no último ano, muito por conta da pandemia, mas da nova política de assistência do governo federal e estadual, os números mostram que 20% da população, cerca de 40 milhões de brasileiros, estão na zona de pobreza profunda. Outros 15 milhões estão sem emprego formal diante de 30 milhões empregados com Carteira de Trabalho assinada na iniciativa privada. São quase 15 milhões de funcionários públicos.
A que ponto chegamos!
A voz do senhor do carro ao lado ainda martela em minha cabeça.
A voz do pedinte, de que estava se sentindo obrigado a roubar, também.
No mínimo, numa sociedade civilizada, qualquer pessoa deveria ter a chance de trabalhar, empreender, simplesmente se sustentar. Ninguém nasce pedinte. Se transforma. E se nada rapidamente for feito, seja pelo governo ou iniciativa privada, a tendência é uma piora nos números que, por sua vez, apenas refletem o que cada um de nós é. Somos parte de uma estatística e pergunto: até quando você consegue ficar no patamar que se encontra?