Antagônico aos padrões, choca o primeiro discurso do presidente eleito

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O primeiro discurso do presidente eleito Jair Bolsonaro foi completamente fora dos padrões e, apenas por isso, um choque, afinal nunca antes, talvez no mundo, mas seguramente no Brasil, um recém-eleito tenha ocupado a frente das câmeras para aparecer orando ao vivo em rede nacional.

No calor da realidade, impactado pela imagem, ao vivo na rádio Ipanema (FM 91.1Mhz) minha primeira fala foi de aceitar a nossa nova realidade e entender que Bolsonaro falava para os seus eleitores, ou seja, ele sabia a quem estava se dirigindo. E que havia um sentido completo em sua manifestação para essas pessoas que o elegeram com quase 9 milhões de votos a mais do que Haddad.

É preciso entender esse novo momento de nossa história. E entender a partir de sua origem. Por isso, para buscar uma real dimensão desse primeiro ato do presidente eleito reúno aqui duas manifestações. Uma do escritor Milton Hatoum, que dispensa apresentações. E outra de um amigo, bolsonarista de primeira hora, empresário, crítico de toda a política praticada no Brasil nos últimos 30 anos, e satisfeito com o resultado das urnas.

Fica o convite, caro leitor, para que você tire suas conclusões a partir da manifestação de Hatoum e da reação do meu amigo bolsonarista.

Vexame e sinistro

Foi um vexame o primeiro discurso do novo presidente. Antes da fala, o eleito e seus assessores, orando de mãos dadas e olhos fechados, pareciam membros de uma seita religiosa fundamentalista, e não dirigentes políticos de um Estado laico.

O discurso, de uma vulgaridade gritante (na forma e no conteúdo), antecipa um estilo de governar.

Não menos vulgares são os assessores e bajuladores que cercam o capitão. Ao ver e ouvir as cenas patéticas da reza e da fala, me lembrei das frases de um conto de Tchekhov: “Estou cercado de vulgaridades por todos os lados […] Gente enfadonha, vazia… Não há nada mais medonho, mais ultrajante, mais deprimente do que a vulgaridade. Fugir daqui, fugir hoje mesmo, senão vou ficar louco!”

Mas não é preciso fugir. Vou ficar aqui, lendo, escrevendo, dando palestras sobre literatura, questionando democraticamente essa figura sinistra e o que ela representa. Por Milton Hatoum, escritor

Simplicidade e honestidade

Não acho que a cena da primeira fala do presidente tenha sido linda e até dentro dos padrões que estamos habituados a ver. Entretanto havia ali um protesto à grande imprensa. Primeira declaração pelo meio que o elegeu, a internet, travando a transmissão e tudo, amadoramente, deixando o “padrão Globo” sem saber o que fazer. E depois por um pool de tv, com um repórter sem identificação no microfone.

Claro que tudo isso deixou a impressão de algo amador e simplório.

Na cena haviam sim alguns trogloditas atrás e ao lado dele, mas também reforçou o tom independente e amador.

Ele foi eleito justamente por isso, pela simplicidade, obviamente misturada com a honestidade. Não vejo nisso algo preocupante. Ele não disse e não fez nada diferente do que disse durante a campanha.

Nos fixando no conteúdo, declarou obediência aos princípios liberais, religiosos e à constituição.

Bom não?

Vamos ver o que vem por aí.

Por último, vejo no artigo ou sei lá o que seja (manifestação de Hatoum) uma primeira tentativa de colocar em lados opostos a realidade e a intelectualidade desse país, mas isso também não é novidade, foi assim durante a campanha. Não deveriam eles se arvorar em criticar toda incompetência e roubalheira dos últimos 33 anos? Por que não o fizeram? Acho que vamos descobrir aos poucos.

Por fim: Figura sinistra… Não aceitar o resultado das urnas é que é sinistro!!!

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