É preciso que as pessoas vejam as outras e não a cor delas!

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Osmar de Camargo, professor com licenciatura em História, 41 anos de idade, ex-jogador de basquete e um dos pioneiros da LSB (antiga Liga Sorocabana de Basquete), pai de Leonardo, um menino de 11 anos portador de autismo, estava em sua casa no começo da tarde de domingo passado no Jardim Paulistano em Sorocaba, quando foi alvo de uma operação da Polícia Militar que envolveu 12 homens fortemente armados e quatro viaturas.

Momentos antes da chegada da polícia, um homem que passava na rua achou que a casa estava sendo assaltada uma vez que ele viu um homem negro no muro dela. Esse homem não titubeou em ligar para a polícia e fazer a denúncia. A Polícia Militar também não titubeou em se dirigir ao local informado para flagrar o “assaltante”.

Osmar de Camargo falou sobre este ato de racismo do qual foi vítima em sua própria residência no programa O Deda Questão da radioweb 365 (o programa está disponível no youtube para quem quiser assistir) de terça-feira passada. A imagem que ilustra esta postagem mostra os três primeiros PMs que chegaram a sua casa. Um deles com a arma apontada para a cara de Osmar, como mostra a circunferência vermelha da foto.

Ainda bem que não chegaram atirando… do contrário não saberíamos nada dessa história.

Os PMs avisaram que receberam a denúncia de vizinhos de que a casa estava sendo assaltada por um negro. Osmar nasceu no bairro e todos se conhecem ali, portanto, não foi denúncia de vizinho algum.

Osmar convidou os PMs a entrarem em sua casa. Esclarecido que ele morava ali, ainda receberam ordem do Copom (a central da Polícia Militar) pelo rádio para que dentro de sua casa Osmar lhe mostrasse o documento.

Osmar entende que está no imaginário popular, e sua luta é contra isso, de que basta ser preto, mestiço, enfim, negro, para gerar a desconfiança. Quando decidiu me contar este constrangimento pelo qual passou, sua intenção é de que essa história, triste, chegue ao homem que achou que a casa estava sendo assaltada por um negro. E que ele reflita sobre o que fez ele pensar que Osmar estava assaltando aquela casa.

Primeiramente, está subentendido que o homem achou que um negro não poderia residir no Jardim Paulistano. O bairro localizado na zona sul de Sorocaba vive grande valorização imobiliária. O bairro teve origens nos anos de 1950, quando a construtora Comercial e Imobiliária Brasileira comprou uma grande gleba de terra no final da então estreita avenida Barão de Tatuí, que após a capela de João de Camargo se resumia a uma estrada de terra e uma imensa zona de mata. No início dos anos de 1970, o BNH (Banco Nacional da Habitação) começou a construção de casas populares na parte mais baixa do bairro. Apesar da pressão imobiliária, várias famílias resistem em deixar o bairro.

Em seguida, Osmar estava no muro de sua casa em razão de um problema de manutenção dela que está com vazamento em um cano.

Por fim, Osmar explicou que colocar pra fora situações como esta, ao invés de guarda-la dentro de si, é uma forma de lutar contra o racismo. Ele deixa no ar uma certeza: o tal homem que chamou a polícia porque viu um homem preto em situação suspeita, se fosse um homem branco, também despertaria desconfiança? Ou não seria visto como suspeito apenas por não ser negro num “bairro de rico”.

É preciso que as pessoas vejam as outras e não a cor delas!

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