O vereador Manga, que é missionário da Igreja Mundial e mira ser candidato a prefeito de Sorocaba em 2020, veiculou ao vivo na tarde de segunda-feira um comunicado em sua rede social a respeito do que pretendia ser a relação que existe entre dinheiro público e carnaval.
No calor do seu pronunciamento, a mensagem que ficou a quem assistiu à sua Live foi a que Manga é contra o Carnaval.
Essa mensagem, que poderia ser algo positivo perante ao seu público na sua igreja (não gastar dinheiro público com o Carnaval) acabou sendo um desgaste sem tamanho com a comunidade negra, cultural e carnavalesca de Sorocaba.
Depois de forte repercussão negativa nas redes sociais, ao final da sessão ordinária de hoje, na Câmara Municipal, o presidente da União Sorocabana das Escolas de Samba (Uses), Édson César Leite, conhecido como Édson Negracha (foto), informou ao vereador que as escolas não recebem dinheiro público e elencou uma série de atividades sociais, recreativas e culturais que a Uses faz em Sorocaba.
Manga insistiu em dizer que não é contrário ao Carnaval, mas sim contra o uso do dinheiro público no Carnaval. Porém não respondeu questionamento feito pelo jornalista José Carlos Fineis num grupo de Wahttsapp formado pelo assessor de Manga, jornalista Eduardo Santinon: “Edu, gostaria que o vereador se posicionasse sobre outras verbas repassadas para a Cultura, como o custeio da Fundec e Orquestra Sinfônica Municipal. Não estaria o vereador se posicionando apenas contra um dos muitos segmentos da Cultura, no caso, o Carnaval de rua (tradicionalmente popular), e deixando de aplicar o mesmo raciocínio a outros segmentos, que podem ser considerados mais ‘elitistas’? Quero deixar claro que não tenho nada contra o excelente trabalho da Fundec. Só gostaria de uma explicação convincente sobre o porquê de uma atividade cultural, justo a mais popular, ser considerada um gasto supérfluo, enquanto as subvenções a outras atividades não são questionadas. Preciso perguntar: a questão é apenas orçamentária ou também se relaciona ao fato de o Carnaval ser considerado, por segmentos religiosos, uma festa ‘do diabo’? O vereador não teme que seu ato seja considerado demagógico, em uma cidade que recentemente trocou os livros gratuitos do PNLD pelos do Sesi, ao custo anual de R$ 8 milhões? Desculpe a franqueza das perguntas, mas se formos noticiar será interessante que esses pontos sejam esclarecidos”.
Edu disse que Manga se posicionaria a respeito dessas colocações de Fineis na sessão da Câmara de hoje, mas não se posicionou.
História
A questão do Carnaval de Rua de Sorocaba, isso não é novidade a ninguém, passa por mim. Em 2005, após ter sido o coordenador executivo da campanha a prefeito de Vitor Lippi, ele me convidou para fazer parte do seu governo. Seria (como acabei sendo) o primeiro Secretário da Cultura de Sorocaba, cargo criado em maio daquele ano. Porém, como diretor de área, dirigindo a Cultura ao lado da secretária Terezinha Del Cístia, o primeiro ato no primeiro mês foi organizar o Carnaval de Rua de Sorocaba que, pelas razões de sua época, haviam sido canceladas pelo prefeito antecessor Renato Amary. O vereador Eng. Martinez, consultado por mim, deu total apoio e respaldo ao trabalho mais maduro que a Cultura começava a fazer. Manoel Motta, saudoso, no comando de um dos blocos da folia sorocabana, foi outra figura importante naquele momento. O comandante Vitor da Polícia Militar também teve sua colaboração. E a velha guarda das escolas de samba, sem dúvida, foi quem fez acontecer. Desde então há muito sendo feito pela Uses (e por quem é da cultura do samba e carnaval) nos bastidores da sociedade sorocabana. Os prefeitos Pannunzio e Crespo, que vieram depois de Lippi, perceberam isso e apoiam. O vereador Manga foi precipitado quanto ao Carnaval, especialmente quando confrontado pelas perguntas feitas por Fineis, que ele deixou sem respostas, a respeito de sua perseguição a esse setor da cultura, deixando de lado outros setores.
Minha impressão é que Manga, na ânsia de atacar Crespo, o que é normal numa corrida eleitoral, queimou a largada e arregimentou contra si uma leva de eleitores fundamentais para o sonho de quem deseja governar uma cidade (espaço múltiplo de crença, cultura, religiosidade, benemerência…), tão fundamentais quanto são os que praticam a fé evangélica. Sorocaba é do Nosso Senhor Jesus Cristo (como diz a placa na entrada da cidade), mas é também dos Católicos, Espíritas, Religiões Africanas, quem tem Fé nas Igrejas Orientais, de quem não tem religião… Manga precisa corrigir seu descompasso do ritmo da campanha eleitoral, começando pelo carnaval.