Quando tive a idéia de escrever este blog, que nasceu uns seis meses depois da coluna de rádio O Deda Questão – que não existe mais – minha intenção era ir além do noticiário político. O que apenas a circunstância do momento, do fato de eu estar secretário da Prefeitura de Sorocaba, me levou a dedicar meu olhar aos assuntos que, verdadeiramente, entendo como são importantes.
Um desses assuntos, desde a primeira postagem em 2013, é sobre pessoas sem moradia, sem família, sem amparo, sem estrutura que começavam a ocupar as ruas de Sorocaba. Hoje é perceptível que há nas ruas da cidade muito mais gente nessas condições do que naquela época. Volto a dizer, uma época em que os historiadores quando fizerem um recorte da História, seguramente vão dizer, quando o mundo “virou a chave”.
O tempo tem sempre um dia, um dia que muda o tempo e um tempo novo se inicia.
Se no mundo as mudanças começaram em 1989 com a Queda do Muro de Berlim, no Brasil elas se tornaram visíveis com as manifestações dos estudantes contra “os 20 centavos” de aumento na passagem dos ônibus em junho de 2013, no impeachment da Dilma em 2016, na eleição do Bolsonaro 2018 e no comportamento cada vez mais pendente à extrema-direita que vemos nos costumes e numa economia de Estado Mínimo – embora ainda haja abismo, fenda, canyon… social – cada vez mais predominante nas reformas propostas pelo governo e aprovadas pelos congresso.
O fato é único: quando essa gente atravessou esse “canyon social”, saiu dos guetos, da periferia e alcança as esquinas dos bairros nobres, das zonas bancárias, das grandes artérias do fluxo de veículos aos olhos de todos, essa gente provoca duas situações que originam uma terceira.
Primeiro: essa gente faz com que a gente que estava vivendo “bem” no conforto de suas casas, trabalho e acesso ao Estado (água e esgoto, energia elétrica, asfalto) veja que elas, sem nada, existam.
Segunda: essa gente que estava sobrevivendo “mal” com as migalhas em seus barracos, nos subempregos e sem acesso ao Estado desejem ser “gente”, desejem que seus filhos “sejam gente um dia”.
Terceiro: o encontro dessas gentes causa nas duas o choque do conhecimento do chamado “mundo real”.
E ninguém quer sair do seu conforto, só do desconforto. Por isso, a primeira coisa da gente que está estabelecida é chamar o Estado (Prefeitura, Polícia, Fiscal…) para tirar essa gente que vaga, sem nada, da sua frente. Eu pago meus impostos… bradam no peito. Eu quero a solução.
Na marra, percebo, vão perceber que o Estado não dá conta de tudo o que lhe atribuíram.
E entre todos os especialistas que já pensaram no assunto, me parece que há a unanimidade de que a Educação seja o caminho para corrigir a distância desse abismo entre essas duas gentes, mas eu me arrisco a meter no assunto e sugerir que se comece a corrigir o assunto pelo espaço. As pessoas precisam, primeiramente, individualmente de 30 metros quadrados para cada uma. Isso quer dizer que numa família de 5 pessoas, no mínimo a moradia tem que ter 150 metros quadrados. É só aumentar o problema enfiar uma família de 5 pessoas em 47 metros quadrados. Sem privacidade, ninguém estuda, ninguém descansa, ninguém relaxa. Apenas “enlouquecem”!