Um mês tentando provar prisão nonsense

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Reginaldo André Lameiro, 38 anos de idade, motorista de van escolar há 10 anos com registro na Urbes, está preso desde maio passado acusado de liderar uma quadrilha que invadiu, sequestrou e roubou um empresário e mais três membros da sua família em Boituva, cidade vizinha a Sorocaba, em abril passado.

Neste mês inteiro ele tenta provar que nunca esteve em Boituva, que não conhece nenhum dos acusados pelo assalto (inclusive um dos ladrões que foi preso após levar um tiro na perna) e que o carro visto no assalto, que um dia pertenceu a sua mãe, já não é dela há um ano e meio, embora o comprador não tenha passado o carro para o seu nome.

Fosse o roteiro de um filme, certamente ele seria classificado de nonsense (substantivo em inglês que significa sem sentido, absurdo ou contrassenso e indica manifestações contrárias à lógica). Nonsense é frequentemente utilizada para denotar um estilo característico de humor perturbado e sem sentido, que pode aparecer em diversas artes, em especial no teatro e cinema.

Mas é a vida real. Há uma esposa e um filho de 12 anos sofrendo. Há um pai e uma mãe sem saber mais o que fazer. Há um advogado, Sérgio Leonardo Fernandes, que conhece Reginaldo desde criança, ambos são do bairro Brigadeiro Tobias, se desdobrando como investigador particular para mostrar à polícia e justiça que é um erro ter prendido Reginaldo e, mais que isso, um erro por mantê-lo preso. Há um bairro mobilizado para sensibilizar a justiça. Há um vereador, Fábio Simoa, colocando a reputação do seu mandato na luta para provar a inocência de Reginaldo. Há o engajamento do Movimento Antirracista Sorocabano (Reginaldo é preto) nesta luta. Mas nada disso até agora surtiu efeito.

O que levou o delegado a prender Reginaldo é o fato do empresário, vítima do assalto em Boituva, ter reconhecido que Reginaldo não apenas esteve no assalto como também era o chefe da quadrilha através de uma foto que a polícia mostrou a ele. O que leva a justiça a mantê-lo preso é o fato do empresário, quando viu Reginaldo pessoalmente, reafirmar o que havia dito quando apenas havia visto a foto: sim, é Reginaldo que chefiou o assalto em minha casa. O pedido de liberdade provisória, tendo em vista que Reginaldo tem endereço fixo, tem trabalho e nunca teve envolvimento com a polícia ou justiça foi feito com base no artigo 5º da Constituição, mas negado em 1ª instância e também em 2ª pelo Tribunal de Justiça.

Em conversa comigo ao vivo hoje pela manhã no programa O Deda Questão na radioweb 365 o advogado Sérgio Leonardo, frisou a certeza que ele tem de que Reginaldo é inocente e de que se for provado algo em contrário, ou seja, de que se trata mesmo de Reginaldo e não de uma confusão, essa seria a sua maior decepção em mais de 30 anos como advogado da área criminalista.

A próxima chance para tentar tirar Reginaldo da cadeia afim de que ele acompanhe em liberdade o processo contra ele será em agosto, quando acontece a primeira audiência na justiça deste caso. Até lá, se nada acontecer de diferente do que aconteceu até agora, Reginaldo seguirá preso.

Para quem vê de fora, como eu, o pior desta história é perceber a fragilidade do sistema que levou Reginaldo à cadeia. Ele não teve chance de dizer que nunca havia estado em Boituva e a palavra de um acusador bastou para ceifar-lhe o que há de sagrado em ser humano, que é sua liberdade.

Com gritos, faixas e cartazes com palavras de ordem como “Reginaldo Livre”, cerca de 200 pessoas, entre família e amigos, moradores de Brigadeiro Tobias, fizeram uma passeata de protesto contra a prisão de Reginaldo no último domingo.

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