Entendendo o momento de terror no shopping

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Assim que começaram a aparecer no meu whatsapp, sábado à noite, pequenos vídeos com imagens do desespero das pessoas que estavam no Shopping Center Iguatemi Esplanada, fugindo do que a maioria havia somente ouvido comentário, seguranças e assaltantes  trocando tiros dentro do estabelecimento, pensei na similaridade do fato (real) com a (ficção) narrada por J.G.Ballard no livro “O Reino do Amanhã” quando um publicitário de 42 anos deixa Londres para ir até a cidade a 100km da capital em razão do seu pai, Stuart Pearson, piloto aposentado de grandes companhias aéreas, ter sido assassinado dentro do shopping local após um tiroteio dentro do estabelecimento.

A imagem real, do shopping em Sorocaba, de pessoas se acotovelando no último piso, onde fica a praça de alimentação, tentando entrar na escada rolante para descer até a saída do shopping, foi o que mais me impressionou.

No livro, publicado originalmente em 2009, o autor se antecipa ao ambiente fascista pelo qual o mundo passa neste 2021. Na ficção, o atirador tem um propósito político para o seu ataque, o de atacar quem lhe tirou a qualidade de vida.

E neste ataque no Iguatemi Esplanada, temos “apenas” um assalto a uma joalheria, sem feridos com os tiros disparados? Temos um crime comum?

Li, estupefato, neste domingo pela manhã, cerca de 12 horas após o ocorrido, uma sorocabana bem conhecida em sua área de atuação, culpando o Estado por soltar os bandidos presos pela polícia, por proteger bandidos, por permitir ataques que ela classificou como terrorista. Para ela, se um bandido apodrecer na cadeia, a criminalidade está resolvida. O que é um raciocínio, fascista. Sim, o mesmo apontado no livro.

Entendo que vimos (nós a sociedade) gradualmente perdendo o nosso senso de segurança e sinto que a tendência será de piora por uma única razão: as pessoas (inclusive as que assaltaram o Iguatemi Esplanada) têm muito a perder. A própria vida. Explico: Inicialmente, são 8 os assaltantes apontados pelas testemunhas. Imagino que sejam “funcionários” do crime organizado. Não acredito que sejam 8 amigos que, sem nada, tiveram a brilhante ideia de terem ido buscar emoção num sábado à noite fazendo o assalto. Acredito que os 8 sejam paus-mandados. E que perderiam a vida caso recusassem a ação.

E os 14 corpos (neste domingo foram encontrados outros) enterrados numa vala clandestina atrás do residencial Altos de Ipanema, na extrema periferia de Sorocaba, já reconhecidos pelas autoridades como sentenças do “Tribunal do Crime”, são apenas mais um indicativo do meu raciocínio.

Neste sentido, por razões diferentes, o crime da ficção do livro e o de ontem à noite em Sorocaba se aproximam muito. Pode até vir a ser tratado pela polícia, pelas autoridades, como um “simples” assalto. Pode até mesmo que tenha sido. Mas os elementos do assalto apontam para um outro caminho, o de um crime pensado, organizado, planejado cujo o objetivo pode até ser o dinheiro que virão a ganhar com as jóias levadas, mas me parece que a idéia foi um recado, algo do tipo: “eles” (crime organizado) estão na área.

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