Tenho me dedicado muito mais à leitura de romances ou a ver filmes e séries no streaming, nos últimos dois anos, do que ao noticiário. Tenho me policiado, também, ao tempo que abro o Facebook e vejo o que passa na minha linha do tempo. Ao Instagram dou zero do meu tempo. O WhatsApp, sendo uma espécie de telefone escrito, é minha rede preferida, sem dúvida.
Neste domingo, nos minutos que dediquei ao Facebook, recebi do amigo Carlos Alberto Maria, um decano do jornalismo local, o compartilhamento que ele fez da capa do jornal Folha de S.Paulo com a manchete: Brasil fica mais pobre embaixo do governo atual. E o primeiro comentário é de outro amigo Jorge Fernando Moysés Betti, cujo o pai foi vereador e o avô, por substituição, prefeito de Sorocaba, dizendo: “Folha lixo”.
Moysés Betti, que não tem parentesco algum com o ator Paulo Betti, assumidamente lulista e petista, ideologicamente sempre foi conservador e os seus valores morais se identificam com o atual presidente. Mas isso não faz de Betti um imbecil e muito menos ignorante.
Então, me pergunto, o que faz ele dar essa resposta classificando a Folha de lixo?
A primeira resposta que encontrei, depois de dedicar a tarde de domingo a essa reflexão, é: Não é uma resposta intelectual ou racional, mas puramente emocional. Sendo assim, pouco ou nada adianta explicar o que é jornalismo ou fake news como fiz numa de minhas postagens recentemente.
Depois me veio à memória algo que tenho percebido há anos, quando esse movimento rumo à extrema direita, em 2013, começou a ganhar força: De que apenas idiotas, imbecis e ignorantes acreditam como sendo verdade a enxurrada de mentiras que estão na rede. Me lembro de ter discutido com o Fernandão, que havia sido do Conselho de Leitores do extinto jornal Bom Dia, ao vivo no extinto Jornal Ipanema de rádio, sobre o atual presidente, então candidato, e xingado ele de imbecil. Algo que rompeu nossa relação de civilidade desde então.
As respostas dos bolsonaristas são baseadas no emocional, portanto, a contestação sobre eles não terá efeito se feitas pelo racional. E o mais importante: não se deve desejar “ganhar” uma discussão com um bolsonarista. Muito menos deve se desejar envergonhá-los. Li, atribuída ao escritor Luiz Fernando Veríssimo, a afirmação: Nós temos razão, eles as armas, numa referência ao assassinato por razão política de um policial eleitor do Lula em Foz do Iguaçu. Ouso discordar, eles têm a emoção (irracionalidade).
É preciso achar um caminho de diálogo onde a razão se sobreponha à emoção de modo civilizado, sem soberba, sem caça às bruxas, sem deixar ninguém constrangido.
Mudar de opinião não é sinal de fraqueza moral, ética ou intelectual. Ao contrário. Enquanto houver postagens abordando de modo jocoso quem muda de opinião, como vi hoje a respeito do cantor Lobão, haverá radicalidade. Cada vez que um imbecil é chamado de imbecil ele reforça sua convicção de manter a sua opinião por medo de passar vergonha. Sua convicção lhe dá conforto e mudar de posição, não. Por isso é preciso um caminho para essa transição. Chega de ofensa. Momento exige complacência.