Acordei com a seguinte mensagem num dos grupos de WhatsApp do qual faço parte:
“Atenção: cuidados redobrados, milhares de presos do regime semiaberto nas ruas, pois hj “saidinha” determinada pela legislação vigente e autorizada pelo poder judiciário”.
Este é um grupo incrivelmente grande, são 442 membros, todos empreendedores, organizado por um colega de tempo de faculdade com uma regra bastante simples: é um local de networking, ou seja, é para apresentar seu negócio e fomentá-lo.
Claro que vira e mexe alguém extrapola a função desse grupo com suas preferências políticas e de times de futebol. Mas nada tão acentuado a ponto de implodir o grupo. Até mesmo aqueles chatos bons dias, Deus no comando, que seja uma semana esplendorosa… são raros.
Ainda bem!
Fazer parte desse grupo é uma experiência, exagerado que possa parecer, antropológica. É entender um pouco o pensamento das pessoas que comandam pequenos negócios, empregam milhares de pessoas e definem, ou ajudam muito a definir, que tipo de sociedade somos.
E este alerta no grupo, sobre os presidiários, no meu entender, diz muito sobre quem somos, e com clareza, a respeito da segurança de cada cidadão e de suas propriedades.
Não existe, e esse alerta sobre a saidinha dos presos denota isso, nem mesmo vestígio de que alguém que errou possa se recuperar. Vai chegar o momento em que terão coragem de pedir pena de morte, pois o estigma perpétuo de que o preso é bandido e não se recupera já é verbalizado, esse alerta sobre a saidinha apenas prova isso.
Essa percepção é errada? A prisão recupera alguém? Ser preso corrige o erro do condenado? Ficar confinado fará com que alguém, ao ser solto, respeite a lei?
As cadeias e presídios são, infelizmente, depósitos de foras da lei. Entrar ali é sentenciar a própria vida a estar a margem do convívio na sociedade. É como se tivesse uma doença contagiosa. É o que entendo quando leio sobre o alerta da saidinha de presos.
Não condeno quem tenha esse medo. São empreendedores que estão no primeiro, segundo, e até terceiro negócio. Eles sabem que precisam de clientes e que clientes fogem se não se sentem seguros. Eles sabem que a polícia é ineficiente para proteger a sociedade e ineficaz para prevenir o ato criminoso. São pessoas que já perceberam que não é boa a opção deles próprios usarem armas, pois se tornam bandidos automaticamente, tendo que se defender se matarem ou ferirem alguém diante da justiça. Resta o alerta. O que, convenhamos, é pouco. Fica claro que algumas coisas precisam mudar: Entender o que levou alguém ao crime é uma delas. Mudar a dinâmica de reinserção do preso ao ambiente social é outra. Claro que existem mais fatores. Mas este é um tema que pouco interessa aos políticos.