Há dez anos, quando me mudei para a casa onde moro, fez um calor exagerado.
Eu era novo entre as paredes recém-construídas e isso não me permitia ter o verdadeiro sentimento sobre a sensação daquela extrema temperatura.
Me lembro do boiler chegando a registrar 55° naquele ano. Novos anos vieram e o calor nunca mais se repetiu como naquele final de 2013.
Nunca até essa semana. Na terça-feira o mesmo boiler marcou 62° e uns quebrados, embora esteja programado para aquecer a água a 45°.
Chegando de São Paulo, na rodovia Celso Charuri, vejo uma carreta sofrendo para se deslocar com 3 troncos de árvores na sua carroceria. Tinham mais de 10 metros de comprimento cada uma das toras e mais de 70 centímetros de diâmetro, calculo. Não pude deixar de achar irônico. Nem o calor exagerado breca o corte de árvores.
Nessa passividade bovina, de ver a natureza sendo dizimada, de sermos literalmente cozidos em temperaturas que chegaram a 39° e até 40°, foi um bálsamo assistir ao show de Márcia Mah no Teatro do Sesi.
Com uma voz madura, potente e afinada ela – e seus dois colegas (Alexander Souza e Luiz Anthony) que juntos formam o Trio Gabiroba – canta os 6 biomas brasileiros (Amazônia, Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica, Pantanal e Pampa), seus ritmos, sua cultura e gingado num ritual de amor e defesa da natureza, reunindo de músicas conhecidas e consagradas até composição própria.
O show não é uma expressão de amor à natureza no sentido piegas que o poder econômico impôs à este tema, mas no da praticidade de apontar a contradição de sofrer com o calor e a destruir onde se vive.
O recado é claro: o mercado atende ao consumidor, portanto consumidor exija do mercado o que não destrói, mas preserva da natureza.
Ver o show Bioma Musical no dia mais quente da história paulista é daqueles paradoxos que plantam a semente da transformação.
Assim seja!