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De repente você se toca que está há trinta anos fazendo a mesma coisa e no mesmo lugar. E bate o medo de que não possa mais continuar e então você se concentra em si, muitas vezes se esquecendo de olhar ao lado, para alcançar o grande objetivo: Se aposentar. 

Essa é a história profissional de muitos brasileiros de origem humilde. Onde o dinheiro de cada mês é fruto exclusivo do próprio trabalho.

Essa é a história de Aldo V. da Silva, o Aldo Valério, morto nesta quarta-feira, 15 de novembro, em razão de falência múltiplas dos órgãos depois de semanas internado no Hospital Adib Jatene. Hoje, dia 16, ele faria 61 anos.

Aldo V. entrou menino no jornal Cruzeiro do Sul em 1988 ou 87 ou 89… Não sei exatamente, mas pouco importa. Ninguém nunca soube de onde ele veio. Bem provável que tenha sido seu primeiro emprego. 

No Cruzeiro do Sul ele aprendeu a fotografar primeiramente com filme Preto & Branco. Depois em cores. Por fim em digital. 

Ele ganhou dezenas de prêmios em concursos jornalísticos. Ele sabia se comportar no sistema e estrutura do jornal. 

Aldo V. tinha inteligência emocional e sensibilidade para saber o que não fazer e a quem atender.

Eu tive várias experiências profissionais com ele. Tanto sendo seu chefe, como sendo seu parceiro de pauta.

Eu estava com ele e o Bizu quando desejei o emprego de repórter e para conseguir minha missão era achar e entrevistar o ganhador da Loto, o equivalente a Mega-Sena de atualmente. Foram horas marcantes perambulando  pela Zona Norte. Momentos que não se apagam em mim.

Aldo V. era forte. Nunca soube se ele malhava, mas essa era a impressão que eu tinha dele. E tinha um sorriso fácil, o que era propiciado por seus dentes grandes, brancos e bem-tratados.

Ultimamente, aposentado, ele fazia comentários em postagens de rede social.  Sua pouca familiaridade com a escrita quase sempre provocavam mal-entendidos comigo, principalmente nos dias de extremo radicalismo ideológico.

Sua morte me entristeceu. Ela aconteceu dez dias depois de seu filho ter publicado mensagem num grupo de WhatsApp de jornalistas anunciando a gravidade do estado de saúde dele.

Um transplante de fígado talvez pudesse ter dado a Aldo V. alguns anos mais.  Mas para entrar na fila ele teria que fazer o que nunca havia conseguido, mudar hábitos.

Aldo V. era ansioso. Mas que jornalista não é? Ele tinha vícios prosaicos e aceitáveis que todos os jornalistas de sua geração têm. Aldo V. sossegou! E com ele se vai uma boa parte da história recente da imprensa sorocabana.

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