Pecado preferido 

Compartilhar

A vaidade é o cuidado exagerado da aparência física, porém também da aparência intelectual e espiritual, pelo prazer em si ou com o objetivo de atrair a admiração ou elogios de terceiros. É a necessidade de se vangloriar, de ostentar, de se exibir, mas sobretudo a necessidade de que o outro o reconheça e admire.

Quando alguém faz o que é necessário (como cuidar do corpo para deixá-lo saudável, estudar porque sabe que é pouco o que sabe e respeitar o outro em sua individualidade), ou seja, não faz para se vangloriar, ostentar ou se exibir, ainda assim existirá o olhar do outro te fazendo vaidoso.

A primeira situação, onde se faz para receber aplausos, é diferente da segunda, onde se faz por necessidade de atender a si. Num caso, o outro é o foco. No outro caso, o foco é o Eu. É significativa a diferença. Porém, pergunto: E o resultado? E respondo: O mesmo. Em ambos os casos, o saboroso gosto do aplauso. Mas num caso, se dá o nome de vaidade e no outro de autoestima.

Eu escrevi meu primeiro romance porque escrever é uma atividade pessoal, minha, individual. É um encontro de mim comigo mesmo. Então porque publicá-lo? Pois é, uma pergunta que ainda não sei qual é a resposta boa. Claro que sei o que levou à publicação, mas poderia ter dito não. E não disse. O fato é que o livro é resultado do meu ofício, o de escrever, comigo mesmo. 

No final da tarde de quarta-feira uma amiga de infância e adolescência me mandou uma mensagem absolutamente generosa, dizendo assim: “Oi Deda, espero que esteja tudo bem! Finalizei a leitura do livro, demorei um pouco para iniciar a leitura porque meu filho quis ler antes de mim. Ele adorou. Achamos a história muito emocionante e envolvente, principalmente pra mim, porque a história é muito semelhante com a minha e também por eu ter participado desse bairro (vila Santana) nessa época, muito grata por compartilhar, passa um filme na cabeça em sintonia com a narrativa. Parabéns, muito sucesso, um abração”.

Na manhã de ontem quando anunciei que deixaria a bancada do programa “Questão de Cidadania”, que apresento desde o dia 2 de janeiro na rádio Gospel FM 102,5 MHz, uma ouvinte, com quem troco mensagens há meses, ao vivo, no ar, se pronunciou: “Você vai fazer falta”.

Eu não falo no rádio para agradar ninguém. Nunca falei. Em todos os anos, diariamente, falando no microfone e sendo irradiado para onde nem imagino, meu compromisso sempre foi com o didatismo do tema que estou falando. Sempre foi contar histórias. Sempre foi chamar quem me ouve para o contexto do que é comunicado.

Mas a verdade é que a mensagem de minha amiga e a da minha ouvinte encheram-me de alegria, especialmente porque nem uma coisa e nem outra, ou seja, nem o livro e nem o programa, foram feitos para agradar ninguém. Se agradou foi sem que essa tivesse sido a intenção. A intenção principal, pelo menos.

Tanta justificativa, tanta explicação… A vaidade é inerente ao ser humano. Neste caso, espero que ela sirva para promover o livro ou garantir um trabalho na rádio quando eu estiver, novamente, apto a falar num microfone.

Me lembro de Al Pacino na última cena de “O Advogado do Diabo” quando ele, interpretando o próprio diabo-humano, diz: “A vaidade é, definitivamente, meu pecado favorito!”

Comentários