Leia depoimento exclusivo de estudante que vivenciou a ocupação de escola em Sorocaba. Pura emoção que explica bem aquele momento

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O governador Alckmin conduziu de uma maneira desastrada a reorganização escolar pública a ponto de deixar de lado o que pretendia fazer e ficar em evidência a falta de diálogo para as mudanças pretendidas. O resultado foram ocupações de prédios escolares em diferentes cidades paulistas. Inclusive em Sorocaba. Falei muito sobre isso com a mãe de uma jovem, de 15 anos, que ocupou uma das 21 escolas sorocabanas. Trocamos idéias sobre o momento e a meu pedido ela me passou um texto de sua filha, Sabah Machado Farah.

Leia que depoimento cheio de verdade e que explica bem aquele momento:

“Oi, sou a Sabah, tenho 15 anos e estudo no Ezequiel.

Começo meus agradecimentos atingindo diretamente ao governo, por ter feito com que os estudantes mostrem a sua voz e mostrem que estão unidos.

Nós, estudantes secundaristas do estado de São Paulo, demos uma lição a qualquer sujeito que duvidou da nossa força. Ocupamos mais de 200 escolas, e quando desocupamos, meu amor, é pra ocupar a Diretoria de Ensino! Só isso mesmo.

Minto! Não é só isso. Com certeza, não é só ocupar e resistir. É ocupar, resistir e criar vínculos. Eu, em duas semanas de pura ocupação, conheci e descobri as pessoas. Descobri o que significa união, o que significa ‘um por todos e todos por um’. E não descobri apenas a parte bonita de colocar nos livros de histórias (escrito por nós). Descobri, também, como picar alho, por exemplo. Descobri como esperar a vez pra falar, descobri a respeitar o espaço, e a fazer parte dele. Com vocês, alunos do Lauro, descobri que a decisão de: ‘ESPERA ELA ABRIR O PORTÃO E A GENTE OCUPA!’ foi a melhor decisão tomada na minha quarta-feira, de dois meses atrás. Com muita força e determinação tivemos a primeira escola ocupada em Sorocaba. Com muita paciência, nos conhecemos e nos ajeitamos a nossos costumes. Cheguei a ganhar leitinho logo ao acordar!

Nós construímos uma fortaleza, a ‘nave mãe’, como costumamos chamar. Nós criarmos laços, e nos enrolamos neles, fizemos um nó.

Nós, feito humanos e não números – como nosso governo pensa que somos – ocupamos e resistimos, nós nos dividimos entre cozinha e limpeza, entre portão e vigia, entre grosseria ao acordar e um ‘boa noite’ ao dormir.

Uma semana depois de ocupar o Lauro, ocupamos o Ezequiel!

E lá, ah meu Deus, lá eu descobri uma família! Eu descobri que o Nicolas só tem 16 anos, que a Luna rouba meu tetê quando eu não tô com ele, que o Gabe é o melhor cozinheiro (dá vontade de levar pra casa), que precisamos de uma mangueira boa pra ligar o gás se não todo mundo morre, que o oprimido que se torna opressor precisa mostrar a sua verdadeira voz, que ouvir histórias que são contadas por livre e espontânea vontade é muito melhor que ler o capítulo de um livro só pra conseguir passar de ano, que ‘fala pô cê’ e ‘miga sua loca’ são as melhores frases a serem ouvidas, e as que mais sentirei saudades. Nessa família, eu encontrei conforto, encontrei calor e união. Encontrei um amor que foi dado a todos, para manter todos os corações calmos e tranquilos, para seguirmos em frente. Eu me sentiria culpada se não falasse seus nomes à meus filhos, no futuro, pois vocês mudaram a minha vida. Vocês me mostraram que para conseguirmos confiar em alguém, não precisamos de 4/5 anos de amizade e dedicação. Só precisamos de uma boa causa, e um bom espaço para sentar e conversar. Eu ponho a minha mão no fogo por todos vocês!

Nós conseguimos, em uma semana, ter tudo que não encontramos em ANOS estudando no mesmo local. Nós NOS estudamos, nós nos conhecemos, nós nos descobrimos e fomos nos encaixando.

Nós somos muito mais do que falam. Nós NÃO somos desocupados, NÃO somos vagabundos, NÃO somos feministas sujas, NÃO somos comunistas sujos. SOMOS ESTUDANTES, e exigimos nossos direitos! Exigimos um ensino adequado, dirigido às necessidades dos estudantes, e de toda a comunidade. Eu preciso que minha filha estude em escola pública quando crescer, e eu quero o mesmo modelo de escola que minha mãe estudou! Quero alunos que tenham vontade de ir pra escola, não que tenham que ir por obrigação. Quero professores que estejam atuando nessa área pois sabem que é isso que sabem fazer, nos dar conhecimento e receber! Nós estudantes, precisamos de respeito dentro das escolas. Precisamos de rodas de conversa, precisamos de histórias, precisamos de afeto. Precisamos nos conhecer como eu conheci todos esses anjos nessas duas semanas. Precisamos entender o caos um do outro. Precisamos tornar justa toda forma de amor!

A luta NÃO acabou, e não acabará por causa de uma liminar que não caiu!

Desocupamos escolas, SIM! Ocupamos a DE, COM CERTEZA!

Estamos aqui para mostrar a nossa voz e nossa força, não sairemos enquanto não alcançarmos nossos objetivos. A rua é nossa! A escola é nossa! E agora, a DE é nossa!

É TUDO NOSSO!!!!!!!!!

Eu adoro vocês seus desocupados sujos, façam muita sujeira desse tipo no meu coração.

É nois!”

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