Odorico Paraguaçu, personagem cômico criado pelo dramaturgo Dias Gomes, nasceu no teatro em 1969, mas ganhou fama na TV com o ator Paulo Gracindo. Dono de um linguajar peculiar, Odorico era prefeito de uma cidade fictícia e gostava de citar filósofos e inventar frases. Toda a trama se desenrola em torno da inauguração do cemitério do cidade uma vez que ninguém morria para ele fazer o ato solene de inauguração. Em suma, parecia que Odorico não tinha mais nada para inaugurar do que o cemitério.
Me lembro desse político do imaginário nacional quando recebo o convite que partiu do prefeito Crespo para a inauguração da solenidade de reabertura da porta principal do Palácio dos Tropeiros, sede do governo municipal, que permaneceu fechada por mais de uma década para o acesso do público. Obviamente que o público entrou por outra porta na prefeitura ao longo dos últimos dez anos.
Mas Crespo pensou no simbolismo do ato onde a Prefeitura abre literalmente as portas para a população e mostra o acolhimento da população por parte do atual governo municipal. “A Prefeitura e a Câmara estão mostrando muita dedicação e empenho nesses primeiros dias de governo e a população só tem a ganhar com isso”, afirmou Fernando Dini líder do prefeito em seu discurso. “A ideia é que no futuro possamos oferecer, até mesmo, uma visitação guiada pelo prédio”, disse Crespo.
Razões de segurança
De acordo com secretário de Licitações e Contratos, Alexandre Robim, o acesso principal ao Paço havia sido fechado por razões de segurança. “As brisas, placas de concreto que servem para proteger do sol e vento, que ficavam sobre a rampa de entrada, apresentavam deterioração e não poderiam ser restauradas. Por isso, naquele momento, ainda no governo do ex-prefeito Renato Amary, a porta principal teve de ser fechada para evitar acidentes”, lembra o secretário. Hoje, porém, a situação é diferente. “Com o passar do tempo, essas peças danificadas foram sendo retiradas e hoje não havia mais motivo para manter esse acesso fechado”, explica.
Democracia
Outro motivo para que as portas permanecessem tanto tempo fechadas foi para evitar manifestações nas áreas internas da Prefeitura. “Por isso, esse simbolismo de abrir as portas, pois fechá-las era um ato contra a democracia. É livre o direito de manifestação da população e, quando há excessos, esses é que devem ser coibidos”, ressaltou José Crespo ao justificar a abertura da porta. O prefeito destacou ainda o resgate arquitetônico do prédio. “Tudo aqui foi concebido com uma função e a entrada por esse acesso principal também”, diz Crespo, lembrando que a galeria de fotos dos ex-prefeitos fica localizada logo ao lado da entrada.
Não é maldade
O simbolismo em torno da decisão de Crespo é concreto e real, mas é tão tênue a linha que separa seu objetivo da jocosidade (solenidade para abrir porta?) que para não correr o risco de ser mal interpretado ele deveria, simplesmente, ter aberto a porta. Ao fazer isso, a própria sociedade interpretaria (sem o risco da jocosidade) o ato do prefeito com o simbolismo que ele teve a intenção de comunicar. Tem coisas (abrir uma porta é uma delas) que devem ser feitas, só. Nada de alarde mesmo porque em nada mudou no funcionamento da prefeitura o fato dessa porta estar fechada desde 2003.
FOTO: Momento em que autoridades reabrem a porta que ficou fechada por 13 anos