Logo após publicar a postagem “Aos poucos, o sorocabano vai conhecendo o que pensa o prefeito de Sorocaba a respeito de temas fundamentais na vida de uma cidade. Um conhecimento que não ficou claro no processo eleitoral: sua ideologia liberal e a de fazer privatizações” – que considero importante, passados 60 dias do governo Crespo, para entender o que será a administração pelos próximos 3 anos e 10 meses – achei por bem saber o que pensam a respeito das questões por mim levantadas os seus 4 concorrentes na eleição.
Enviei a Glauber Piva (PT), Hélio Godoy (PRB), João Leandro da Costa Filho (PSDB) e Raul Marcelo (PSOL) a mesma mensagem: “Olá, tudo bem? Quando tiver um tempo gostaria que lesse e opinasse sobre esta minha mais recente postagem. Tem relação com você. Obrigado. Abraço.” Todos me responderam. Nenhum deles lamenta a opção do eleitor por Crespo, mas são unânimes na desconfiança, crítica e incerteza sobre o futuro de Sorocaba sob o comando do prefeito.
Godoy cobra a presença de Renato Amary e afirma que o eleitor não votou em Crespo, mas no seu padrinho do PMDB que não concorreu devido as incertezas jurídicas de que teria homologada sua candidatura. Raul Marcelo não mostra surpresa com o que Crespo fez em 60 dias, mas lamenta a falta de diálogo. João Leandro reforça que Crespo não consegue deixar de olhar o passado e demonstra apenas incertezas a respeito do futuro. Glaúber Piva faz um decálogo de críticas dos 60 dias do governo Crespo e um 11º ponto que, em tese, explica o sucesso de Crespo na vida pública.
A seguir, por ordem de colocação na eleição, publico a íntegra do que cada um me enviou:
Raul Marcelo: retrocesso e falta de diálogo
“Ficou muito bom o seu texto, de fato são questões importantes que a sociedade precisa discutir. Não subsidiar o transporte coletivo é um retrocesso, toda cidade vai sofrer com o aumento do transporte individual e a poluição (efeito perverso do aumento da tarifa). Privatizar a Educação também acho um atraso. Enfim, o mínimo que se espera é um debate mais amplo sobre essas questões. Parabéns, grande abraço.”
Raul Marcelo obteve 24% dos votos no 1º turno e disputou o 2º turno com Crespo onde terminou com 48%, insuficientes para derrotar o eleito que obteve 51%. Num dado momento, quando pesquisas indicavam que ele poderia ganhar, forças conservadoras da cidade se uniram em torno de Crespo.
João Leandro: improviso e desastres
“Na minha opinião, sustentada pelos acontecimentos, o Crespo até agora não tem a mínima idéia do que é governar e conforme os fatos vão acontecendo ele vai improvisando. Alguma coisa vai dar certo, mas provavelmente teremos muitos desastres. O prefeito tem a postura de não deixar a equipe (que já é fraca) ousar e enfrentar de forma séria e responsável os problemas. Isso que os problemas ainda nem começaram! Até agora o prefeito e sua equipe se alegram e se satisfazem atacando o governo anterior. Será que terão êxito? Nunca vi ninguém se dar bem apenas falando mal do antecessor. No final dará errado. Termino dizendo que gostei da sua análise. Aliás sempre lúcida. Grande abraço”.
João Leandro obteve 13% dos votos e ficou em terceiro lugar na eleição. Ele era o candidato do prefeito Pannunzio e da manutenção do PSDB no governo onde vinha sendo eleito e reeleito desde 1996.
Hélio Godoy: Cadê o Renato, o povo não votou Crespo
Confesso que tenho falado pouco a respeito da administração do Crespo, mas tenho ouvido muitas reclamações nas ruas, supermercado, padaria, em todo lugar. Os eleitores se dizem encanados.
Sou mais um como a maioria dos sorocabanos que ficaram sem opção para votar no segundo turno. Mais da metade dos sorocabanos precisam ainda serem conquistados pela nova administração. Quando o prefeito que diz que vai “agradar a todos e ainda sairá nos braços do povo”, fico preocupado com tal fala do alcaide.
O Crespo, vereador combativo, por vezes até inconsequente quando se tratou de leis ampliativas de serviços em geral, benefícios ou benesses para algumas categorias dos servidores; denúncias, CPIs, e outras ações própria do parlamentar que ele sempre foi, e quase nada de experiência no executivo.
Depois de falar dezenas e vezes que estava fora da disputa a prefeitura, caiu em seu colo um grupo formado por pessoas e partidos dos mais distintos sob a liderança do Renato. Sinto que ainda está um pouco deslumbrado com a conquista e ao mesmo tempo sentindo a conta pesada chegar. Primeiro pelos partidos que o apoiaram cobrando a fatura, desde o PMDB que ficou com metade do poder, o PV do Pena, PTB do Campos Machado O PTN-PODEMOS, também acha que pode mais a deputada que um “naco” e até Ciro Moura do PTC tem um “pedaço” e segundo me falou este dono de partido nanico “ é a sobrevivência do partido”. Fatiou o poder e até o PSDB tem importante “pedaço”.
Mas acredito mesmo que a melhor proposta para a cidade tenha sido a nossa do PRB, embora não tivéssemos ainda musculatura partidária, pessoal de campanha e tempo de TV e Rádio para mostrar para a polução a diferença entre a minha proposta e a dos outros candidatos. Sempre fui alguém voltado para o social, porém por meio de políticas voltadas ao crescimento e desenvolvimento econômico. Visão urbanística e moderna da “polis”, considerando a cidade lugar para as pessoas, por isso propus OUC “Operações Urbanas Consorciadas” com parceria com iniciativa privada para alavancar e modernizar a cidade os investimentos.
Trouxe isso da minha experiência de 17 anos entre câmara e prefeitura e também da academia, principalmente da última pós-graduação na USP, em Planejamento e Gestão de Cidades. O conceito de cidades inteligentes e já aplicadas ao bom funcionamento e planejamento das cidades e dos setores mais necessitados como saúde, educação, emprego, mobilidade, além de agua e saneamento.
Temos sim as grandes obras estruturantes e caras na cidades, mas as micro ações que atinge imediatamente a vida dos cidadãos como simples sinalização para pedestres, calcadas vivas, jardim de chuva e tantas outras iniciativas urbanísticas fáceis de implantar e de baixo custo, são igualmente impactantes na vida da cidade das pessoas e melhora a qualidade de vida na cidade.
Nosso plano tinha a pretensão de colocar Sorocaba na vanguarda com política de saúde forte e moderna através de parcerias e convênios com hospitais particulares, clinicas, laboratórios e médicos atendendo de imediato a vergonhosa situação da saúde local. Dória está fazendo isso em São Paulo, mesmo projeto e com sucesso.
Política social atacando por primeiro o problema dos moradores de rua no centro comercial e ruas e avenidas da cidade, sempre em parceria com entidades de classes, igrejas, empresários e sociedade civi. Isso tem impacto positivo no comércio e autoestima da população. Até agora nada também.
Há notícias que a nova Secretária de Desenvolvimento Social vem introduzindo a sua política desconsiderando os CRAS local em que famílias vulnerais são atendidas, bem com os CREAS, onde diferente política é realizada considerando diretrizes do plano federal da política social com outro tipo de atuação junto as famílias já em piores situação com vínculos rompidos. Mudar diretriz ou personalizar essa política será outro erro.
Política de segurança pública, fortalecimento da Policia Municipal a CGM com criação do batalhão da CGM e sub comandos nas regiões das subprefeituras ou regiões da cidade com descentralização das ações, mais próximas da população. Os bairros carentes de segurança onde a Policia Militar cada vez com menos presença e investimentos do governo do estado, idem para Policia Civil que está também cada vez mais sucateada com milhares de policiais solicitando aposentadoria (pode chegar a 5 mil só este ano) em todo estado e sem reposição de pessoal. Logo fortalecer a segurança por meio da CGM é fundamentar para a cidade e não tornar os nossos CGMs patrimoniais, apenas. A CGM é policia Civil e comunitária.
Política industrial, vocação da cidade como polo industrial, tendo uma política mais agressiva com legislação própria de incentivo as empresas na geração e manutenção do emprego e da renda e cuidado com a zona industrial da cidade. Até agora nada.
Temos notícias de perda de mais empregos com empresas tradicionais deixando da cidade.
Na educação incentivar e não demonizar os servidores, trazendo insegurança a toda categoria e servidores com a privatização de “pedaços” da educação. Convênios são importantes sim, mas sem perder o controle na capacitação, na supervisão e manutenção da qualidade do ensino. Inclusive as creches já são supervisionadas pela Secretaria da Educação.
Um aluno na creche custa hoje 1000 reais para a prefeitura e 500 nas entidades sociais. Portanto, ampliar tais parcerias é uma saída, sem nunca perder de vista que a educação na primeira infância é um “direito da criança”, e fator de desenvolvimento de suma cidade que deseja se desenvolver e liderar pela educação de seus habitantes.
Política habitacional na criação de novos conjuntos nos vazios urbanos, onde estão prontos os novos projetos habitacionais, importantes tambem na geração de emprego na construção civil, revitalização de núcleos habitacionais e escrituras de mais 10 mil imóveis já planejados e quase prontos para entrega as familias.
Também o transporte público que é essencial principalmente neste momento em que o trabalhador e pais de família estão sem dinheiro para pagar ônibus para o trabalho, escolas e lazer. Este aumento não se justifica, pelo menos nunca se deixou mostrar na campanha que o candidato tinha esta visão, pois e bem o sistema desde a sua criação em décadas passadas.
Conter o desemprego na cidade que clama de uma ação imediata liderada pelo prefeito de Sorocaba na união de forças juntos com deputados e governo do estado, ministérios, sob a liderança de Sorocaba como município Sede de Região Metropolitana com mais 50 bilhões de PIP.
Este atraso só se explica com a ausência de liderança política, ao não conseguir tão pouco a nomeação das diretorias da Agencia Metropolitana para início do trabalho do Conselho Metropolitano de Sorocaba, onde o governador do estado desdenha da nossa região.
Desde maio de 2014 quando foi sancionada pelo governador estado com pompa e festa no Parque Tecnológico de Sorocaba, nas presenças dos prefeito e deputados, a criação da Região Metropolitana de Sorocaba região com população de quase 2 milhões de habitantes, importante PIP do Estado e do País, pouco avançou o trabalho primordial para tantas questões como destinação do lixo, transporte, saúde, educação, transporte, agricultura, indústria e comércio, etc, que atuando em conjunto pelos prefeitos das cidades que fazem parte do aglomerado mais recursos poderão ser buscados. Outros aglomerados que posteriormente iniciaram trabalho estão avançando mais rapidamente já ultrapassando Sorocaba, como os aglomerados de Ribeirão Preto e Piracicaba, com resultados excelentes para os municípios participantes. Falta, portanto trabalho e visão maior da região próspera que é a Região Metropolitana de Sorocaba e claro, mais força política.
Enfim trazer os deputados, todos, desde os que apoiaram na campanha vencedora e que parece que estão ausentes, bem como os demais que tem a mesma obrigação, pois foram eleitos pela região. Todos hoje, omissos.
Ao final uma pergunta que não quer calar! Cadê o Renato, até porque o povo na maioria não votou no Crespo, votou no Renato. Até agora vimos que “botou” a turma toda dele lá na prefeitura e sumiu.
Crespo continua vereador combativo e não prefeito, ainda. E o povo parece arrependido de “Botar”.
Hélio Godoy obteve 10% dos votos e ficou em 4º lugar na eleição. Ele havia sido secretário de Habitação de Pannunzio e migrou ao PRB quando obteve a certeza de que seria o candidato a prefeito.
Glauber Piva: 11 pontos que dissecam o prefeito
Acho que você acerta ao tentar enxergar o Crespo que há por trás das medidas que anuncia, mas, por outro lado, seu texto simplifica uma questão que é mais complexa. Por isso, faço os comentários abaixo:
1) Crespo mentiu? As atitudes do prefeito de Sorocaba nestes sessenta dias de governo mostram que ele não está cumprindo o que disse em campanha. Prometeu baixar as passagens de ônibus; prometeu acabar com as filas para cirurgias em 15 dias; prometeu acabar com o déficit de atendimento em creches. Tudo o que fez até aqui foi piorar o serviço público e demonstrar que, para ele, o discurso de campanha não vale para governar.
2) Crespo e a barbárie: Deda afirma que “poucos dão bola para o fato do prefeito ser do DEM (Democratas), de centro-direita, único partido conservador e liberal no Brasil. Crespo deixou de lado isso na campanha. Mas seus adversários também”. Ele está certo quando diz que poucos dão bola para o fato dele ser de centro-direita, mas erra ao dizer que os adversários deixaram isso de lado na campanha. Eu repeti várias vezes que vivíamos uma disputa entre um projeto de civilização e outro de barbárie. Fui contundente (talvez não tenha sido convincente) ao dizer que Crespo representava a barbárie e que isso significaria a piora dos serviços públicos. Como a vida real já provou, Crespo faz mal para a educação pública e para a mobilidade urbana.
3) Crespo não tem projeto de mobilidade: o prefeito já havia mostrado na campanha que não tem projeto de mobilidade. Ele começou defendendo o BRT, mas, com o andar dos debates, passou a defender o VLT, copiando algo que eu disse durante toda a campanha eleitoral. Eu disse à época e repito agora: devemos aproveitar a extensa malha ferroviária que temos em Sorocaba para implantarmos um sistema barato de “veículo leve sobre trilhos” e conectá-lo com outros modais, dotando a cidade de uma rede complexa de mobilidade: trens + bicicletas + pequenos ônibus dentro dos bairros + ônibus grandes nas avenidas + estímulo ao compartilhamento de veículos.
4) Crespo é arcaico: os dados da URBES demonstram que nosso atual sistema de transporte coletivo baseado num único modal está ultrapassado e vem perdendo relevância social. Ao invés de tentar resolver um problema complexo com um complexo de soluções, o prefeito aumenta a passagem (quase que pedindo para esquecermos o que ele falou em campanha) e não considera o uso dos aplicativos diversos, por exemplo, como forma de qualificar a mobilidade urbana. Poderia, inclusive, fazer de Sorocaba uma cidade inteligente, garantindo eficiência e transparência na gestão, dando mais visibilidade a todos os recantos de nossa cidade e conectá-la ao que há de mais contemporâneo em termos de administração pública e planejamento urbano. O grande problema é que o prefeito pensa Sorocaba como se ainda estivesse no século passado.
5) Crespo não é liberal: eu discordo do Deda quando ele diz que Crespo é liberal. É pior do que isso. Crespo é apenas um conservador que fala sem pensar, é agressivo e toma atitudes intempestivas. Falta a ele um projeto real. Se fosse liberal, estaria fortalecendo a capacidade regulatória e fiscalizatória da prefeitura. Mas, como não está alinhado nem com o liberalismo clássico, fica apenas reproduzindo frases que transbordam dos jornais e defende um Estado que, por ser tão mínimo, é incompetente. Se realmente ele fosse liberal já seria um grande avanço.
6) Crespo tropeça: eu tenho absoluta convicção de que o governo que se iniciou em janeiro, independente de qual fosse o prefeito, teria de recompor minimamente o quadro cargos comissionados. Mas Crespo fez isso da pior maneira. Ele não tenta criar cargos a partir de um projeto político, mas, sim, pressionado pelos acordos que o elegeram e espremendo ainda mais os servidores. Seria para devolver favores e continuar fragilizando a política sorocabana que ele prefere desmontar o serviço público, criar cargos com critérios obscuros e envergonhar a cidade?
7) Crespo e as crianças: seu governo não tem um projeto saudável para a infância. Eu entendo que há restrições orçamentárias, mas dizimar a educação pública, aumentar os preços do transporte coletivo, reduzir as possibilidades de deslocamento de crianças e jovens pela cidade aos finais de semana e não proferir nenhuma palavra (nem na campanha, nem agora) que sinalize para projetos de urbanismo que coloquem as crianças no centro da decisão é um forte sinal da Sorocaba que se está construindo (ou seria destruindo?).
8) Crespo quer privatizar a cidade: O Crespo tem uma visão privada da cidade. Por isso, não demonstra pretender valorizar o espaço público, mas, sim, dar oportunidade para os interesses privados mandarem na cidade. Não é à toa que ele e seu partido defendem o Temer e seu desgoverno. Não à toa o Crespo apoiou a PEC 55, aquela que limita drasticamente os gastos públicos pelos próximos 20 anos, levando à falência os principais instrumentos de justiça social do país, que são os investimentos públicos em saúde e educação.
9) Crespo e suas contradições: na campanha falou que baixaria o preço das passagens de ônibus: agora ele as aumentou. Crespo e seu partido, para fazer gracinha com a mídia, apoiaram a PEC 55 que congelou os investimentos públicos por 20 anos: agora ele reclama que não tem dinheiro para educação. Crespo fez um monte de promessas na campanha que agora ele simplesmente ignora ou se contradiz. Crespo disse que montaria um secretariado de primeira linha, mas até agora já perdeu vários nomes. Não é que as partes sejam todas fracas, mas o conjunto está desafinando muito.
10) Crespo pensa que é o Dória: o Crespo parece governar olhando com inveja para o novo prefeito de São Paulo, João Dória. Crespo não é o Dória (sobre quem tenho opiniões críticas, mas que não cabem aqui). Para além das questões políticas, Crespo é um desastrado em termos de comunicação e, talvez por isso, prefere o confronto com a imprensa, os servidores e outros partidos a estimular a liberdade de opiniões.
11) Crespo cresce no conflito: como vereador e como candidato isso já havia ficado evidente. O Crespo é filho da política tradicional e cresce no conflito. Ele gosta de gritar, de chamar a atenção, de causar polêmica. Na sua história, foram várias polêmicas e confusões. Isso não é por conta daquilo que pensa ou do que precisa, mas é a sua natureza, como na história do escorpião. Eu não acredito que vá mudar agora, como prefeito. Continuará entrando em confusões e, assim, buscará seus dividendos. Se vai dar certo ou não, apenas o tempo poderá revelar.
Glauber Piva ficou em 5º lugar na eleição, obtendo 5% dos votos. Ele surgiu como a renovação do PT que sofreu a avalanche do massacre que o PT sofria em âmbito nacional com as notícias do Petrolão e impeachment de Dilma.