A dois dias do jogo mais importante da sua história de 104 anos, cada sorocabano tem uma pessoal para contar sobre o São Bento. A minha se confunde com os meus 50 anos de vida, minha crença, profissão e amizades que alimento

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SaoBentoO futebol sempre fez parte da minha vida. Caçula de 5 filhos, temporão, meus irmãos contam que queriam que me chamasse Roberto Carlos por causa do cantor. Era o ano de 1967 e a Jovem Guarda mexia com os ânimos e hormônios dos adolescentes. Mas prevaleceu a vontade do meu pai, torcedor do Palmeiras, e em homenagem aos ídolos do seu time acabei sendo Djalma.

Ainda pequeno, a Gazeta Esportiva era um dos jornais de casa (o outro por muito tempo foi o Diário de Sorocaba com o seu logo, no cabeçalho principal da capa, escrito em letras azuis) e a Bandeirantes a rádio dos jogos. Fiori Giglioti era da família… Abrem-se as cortinas e começa o espetáculo… Nunca havia estado num campo de futebol e imaginava, sinceramente, que havia cortinas a serem abertas. Conhecia os jogadores da foto do jornal. Meu irmão do meio, anestesista na Santa Casa, sete anos mais velho, me amolava ao tirar a tampa do rádio e falar que estava vendo os jogadores dentro dele. Para quem tinha 4 anos, essa magia era possível.

Foi meu irmão mais velho quem primeiro me levou a um jogo, no Humberto Reale, domingo pela manhã. O adversário era o Comercial de Ribeirão Preto. Não me lembro nada do jogo, apenas do nome do time, e de uma multidão. Depois me marcaram jogos, ainda no Humberto Reale, onde vi Enéas pela Portuguesa, Rivelino do Corinthians e Ademir da Guia do Palmeiras. Meu cunhado me levava.

Mas foi no CIC, já tinha 11 anos quando ele foi inaugurado em 1978, que vivi os meus anos de glória com o São Bento. Estava lá na inauguração e o Edu Bala do Palmeiras (como ele podia jogar no São Paulo?) fez o gol, ou deu o passe para quem fez, pouco importa. Nos anos seguintes tive o meu apogeu em duas fases, na primeira delas como gandula, numa época em que havia apenas uma bola por jogo. Naquele jogo em que o São Bento venceu o Corinthians por 1 a 0, gol de Dodô, num chutão dado da defesa e que encobriu o goleiro Jairo, eu sai de campo chorando e escurraçado pelo árbitro Dulcídio Vanderlei Boschila. A bola havia saído na lateral direita do fundo do CIC, embaixo de onde fica a torcida adversária, e ficou rente ao alambrado. Fui lentamente pegar a bola e Wladimir, o melhor lateral que o Corinthians já teve pela esquerda, correu para pegar a bola antes que eu. No susto, empurrei o Wladimir e uma chuva de bagaço de laranja choveu no campo. Boschila não teve dúvida em não apenas me expulsar, mas me passar um sabão.

Tive outras glórias com o São Bento. Pelo Estrada (da Vila Santana onde nasci) joguei uma preliminar contra o América; puxei fio em dezenas de jogos para Clodoaldo Armando Júdica, repórter da Rádio Clube; e um dia me dei conta que gostava mais de ver os repórteres trabalhando do que do jogo em si. Gostava mais de ver os jogadores chegando e saindo, se aquecendo; gostava dos bastidores e dos torcedores.

As irmãs Ramalho (que estão ai até hoje) fazem parte da minha vida. Seo Mahuad (que berrava, mas não saia som da sua voz) também vive em mim. A senhora que vendia a  melhor paçoquinha (doce de amendoim) que já comi na vida (ele era mole e úmido) me acompanha ainda hoje quando me pego em devaneios.

Dentro de campo, Gatãozinho, o meia-esquerda, era o jogador que mais gostava de ver. Mas a malandragem do Titica era algo contagiante. Na verdade, o adjetivo mais adequado talvez seja de bem com a vida. Adílson Picuira que marcou de pênalti o gol que manteve o São Bento na principal divisão numa jogo contra o 15 de Piracicaba e que acompanhei, rezando, pelo rádio, numa noite de quarta-feira. Serelepe, o volante butinudo, era amigo do meu cunhado e me levava dentro de campo, mas me proibia de tomar a laranjada do Cremilson, o ponta do São Bento que veio junto de Nilson Andrade do Botafogo do Rio numa das transações de Juca Paes.

Aliás, por saber quem é Juca Paes, que merece um livro por toda sua história, fui escolhido para ser o editor-chefe do Bom Dia quando o empresário J.Hawilla decidiu instalar a sua rede de jornais no interior de São Paulo. Depois de passar por várias etapas da seleção, Góes, o advogado do Hawilla, e que havia sido ponta esquerda do Corintinha de Presidente Prudente, me perguntou se eu sabia quem era o Capitão (uma das histórias de Juca Paes que inundam o Brasil). E ao responder que sabia e falar da importância de Juca para Sorocaba Hawilla, que estava na mesma sala, mas não participava da conversa, interrompeu e disse que o editor tinha que ser eu.

O São Bento também mexeu com minha fé e razão. Já perto do rebaixamento, sem estrutura e sem dinheiro, eu achava que se rezasse o time se manteria. Promessas e mais promessas. Missas e mais missas. Nada adiantou.

Longe de Zezo Lanaro, Juca Paes, Laor Rodrigues, Benedito Pagliato, seo Lazinho (nomes que conhecia apenas de ouvir no rádio quando ouvia os jogos) o São Bento me dava a impressão que iria sumir. Ver o Azulão virar freguês do Atlético Sorocaba (time do reverendo Mon) era dolorido demais para mim, mas mesmo assim me mantive um fiel torcedor. Até que cinco anos atrás, talvez mais, o Fernando (a quem já entrevistei no programa de TV) deu ao São Bento a mesma credibilidade que ele tem em sua vida pessoal como comerciante e ano a ano o time vem na escalada que lhe traz ao jogo mais importante dos seus 104 anos. Pode até perder por 1 gol de diferença para o Confiança de Sergipe domingo que vem no CIC, a partir das 19h, que ainda assim irá para a série B do Campeonato Brasileiro de 2018 graças aos 2 a 0 da vitória de domingo passado. È um time melhor estruturado dentro de campo, que tomou apenas em um único jogo 2 gols. O São Bento merece essa conquista. O são-bentista também. Mas o sorocabano sobretudo merece ver o time entre os 40 melhores do Brasil. O São Bento, o melhor embaixador de Sorocaba. Não existe lugar onde se vá quando alguém não tenha ouvido falar de Sorocaba em razão, na maior parte das vezes, por causa do São Bento.

E as suas histórias com o São Bento, quais são?

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