Prefeito entrega cartão de Ano Novo aos funcionários públicos durante o expediente de sexta-feira passada
Salatiel Hergezel, presidente do Sindicato dos Servidores Públicos Municipais da Prefeitura de Sorocaba, no último dia útil de 2017 (portanto quinta-feira passada), divulgou à categoria um comunicado a respeito das decisões do prefeito Crespo em relação à categoria:
O sindicato foi muito criticado por ir à exaustão no diálogo com o governo pelo reajuste, porém foi a nossa estratégia. Ninguém poderá questionar que o sindicato foi intransigente.
2018 começa:
1) sem reajuste
2) terceirizações absurdas com redução de salário aos atuais servidores pois perderão horas suplementares e horas extras. (SAÚDE)
3) novamente o pagamento de ponto facultativo OBRIGATÓRIO voltou em 2018 que tinha sido “anistiado” pela então prefeita Jaqueline em 2017.
4) Para os servidores da Educação (São 6 mil servidores) a secretária Marta já informou que as auxiliares de educação voltarão a fazer 8 horas e o suporte pedagógico (supervisores, diretores, vice e supervisores) também voltará a fazer 8 horas porque o prefeito vai entrar com Adin (Ação Direta de Inconstitucionalidade).
5) setores importantes como motoristas e mecânicos também serão terceirizados.
Sobre terceirização estamos terminando nossa cartilha explicativa, mas em resumo é desvio de dinheiro público para as mãos de empresários que ajudaram eleger este governo. Portanto, servidores as redes sociais são importantes mas teremos que cruzar os braços e ir para a rua e mostrar o nosso valor. Não sejamos como gado marcado (Ze Ramalho) que não sabe a força que tem e fica preso em uma cerca de bambu. Um mais um é sempre mais que dois. O governo quer nos dividir. Vamos mostrar a força e a importância que o servidor tem para Sorocaba.
Um 2018 de muita luta.
O que está por trás 1
Se o cidadão comum olhar apenas para o embate do prefeito com o sindicalista, não vou chutar se muitos ou poucos, certamente haverá concordância com as decisões de Crespo.
Mas como o comando da prefeitura não é o de uma empresa privada, ou seja, seus atos têm consequências políticas, afirmo que o prefeito começou com duas dessas decisões (itens 3 e 4 do comunicado do sindicato) a cavar a sua própria cova.
Crespo determinou a compensação, ou seja, o pagamento de ponto facultativo obrigatório dos feriados de 2017 assim que chegou ao cargo de prefeito. Isso criou uma chiadeira sem tamanho e essa causa foi comprada por dois veteranos vereadores (Martinez – que por sua habilidade já residiu o Poder Legislativo por 7 vezes – e Marinho Marte, licenciado do cargo para ser secretário de Crespo na pasta que faz a relação institucional com a Câmara). A força de ambos fez com que esse decreto fosse suspenso pela prefeita Jaqueline Coutinho nos 43 dias em que ela ocupou o cargo. Agora, novamente, Crespo edita o mesmo decreto determinando o que ele entende como certo e sem dialogar com Martinez e Marinho. Exatamente, mesmo sendo seu secretário, Marinho não foi nem ouvido pelo prefeito. A chiadeira desses funcionários, como demonstra o sindicato, voltou. E com o agravante de que os funcionários sentem que Martinez e Marinho não têm influência alguma sobre o governo Crespo.
Arrisco a dizer que Marinho prepara sua saída do governo. A lógica indica isso, não é ninguém me falando. Afinal como seguir num cargo onde o prefeito nem o ouve e, mais, toma atitude que o coloca em uma péssima situação diante dos funcionários públicos?
Mas qual a motivação de Crespo para cutucar Martinez e Marinho?
O que explica é a medição de força entre a dupla de vereadores e o prefeito na criação de uma área dentro da Prefeitura para cuidar especificamente das pessoas em situação de grave vulnerabilidade com as drogas. O vereador Manga, presidente do Legislativo, luta desde a gestão Pannunzio por uma área dedicada exclusivamente a esse tema. Manga buscou apoio no vereador Martinez para conseguir esse espaço, uma bandeira da sua atuação pública. Martinez, então, tratou do tema com Marinho Marte, designado por Crespo para essa relação. O desejo de Martinez era a criação de uma secretaria sobre o tema. O prefeito recebeu o pedido e depois de pensar decidiu que uma coordenadoria dentro de uma secretaria já existente seria melhor do ponto de vista financeiro e da eficiência para o objetivo da pasta. Mas Martinez bateu o pé querendo a secretaria. Marinho, então, desaconselhou o prefeito a não bater de frente com Martinez, mas foi ignorado e está protocolado projeto para criar a coordenadoria, como quer o prefeito, e não secretaria, como quer Martinez.
Ou seja, o prefeito não quer se curvar ao mais articulado vereador da Câmara. Assim, se Martinez faz uma exigência (criação de secretaria) que ele não quer, ele “pune” Martinez ao mostrar aos servidores (principal núcleo eleitor de Martinez) que não há padrinho contra a sua vontade e caneta e reedita decreto do ponto facultativo.
Daí o título dessa postagem: prefeito começa 2018 cavando a própria cova. E de novo, já que ele perdeu o mandato foi ao desafiar o poder de Martinez (que ele jurava a todos os seus interlocutores que votaria contra a sua cassação e no final votou para tirá-lo do cargo no imbróglio contra a vice). Mais, se o seu secretário Marinho voltar à Câmara, voltará magoado. Portanto, além de Martinez terá ainda a ira de Marinho.
Obviamente que Crespo sabe de tudo isso. Se eu sei, como ele não saberia? Certamente o prefeito colocará nesse jogo cartas que eu desconheço, afinal ele é o jogador mais importante e eu apenas um figurante assistindo de longe o que está acontecendo.
O que é fato: Crespo arriscou na primeira vez, e perdeu. Arrisca novamente agora.