Almoço “de rico”, mãe vendendo balas e a lagosta do Supremo

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Eu e minha mulher almoçamos hoje no ótimo restaurante do Novotel na avenida Gisele Constantino, região do Altos do Campolim. Comemos risoto de figo com queijo e filé mignon grelhado. Comida “de rico”, eu sei. Era um momento especial e valia a pena a nossa comemoração.

Pegamos o carro quando fomos embora e ao fazer o retorno o sinal fechou. Então vimos uma das cenas mais reais do Brasil: no gramado do canteiro da avenida, em cima de uma colcha, estava um bebê de 6 meses, imagino, que ainda não engatinha, mas fica sentado sustentando a sua coluna; uma outra criança de 4 anos no máximo e uma criança mais velha, de 11 ou 12 anos, avalio, que tomava conta das menores. Todas sentadas. Minha mulher se indignou: nossa, como essas crianças estão aí sozinhas!!! E, num átimo, apareceu a mãe que aproveitava o sinal fechado e corria de motorista em motorista tentando vender balas. O sinal abriu. Tive tempo de lhe dar uma moeda de 1 real que é o que estava à mão.

Era uma mãe de família. Não era, claramente, nenhuma drogada, ninguém que morava na rua, ninguém que havia se abandonado ou se desinteressado pela vida em sociedade. Ao contrário, era uma mãe com total dignidade tentando ganhar o trocado do seu sustento. Educada. Esforçada.

A filha mais velha, quando seu olhar cruzou com o meu, me deixou a certeza de que ela sabia (ao contrário das crianças menores) o que estava acontecendo. E senti o seu constrangimento por estarem passando por essa necessidade.

O carro andou, e nossos estômagos, meu e de minha mulher, já estavam embrulhados.

O sinal fechou novamente e abri o whattsapp no semáforo e ali recebi do meu amigo Luiz a mensagem: o povo sem emprego, pagando os maiores impostos do mundo, e o STF comendo lagostas e bebendo vinhos raros… Havia um link de reportagem do jornal Valor sobre a decisão do desembargador Kassio Marques, vice-presidente do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1) que cassou a decisão, dada na segunda-feira por uma juíza de primeiro grau, que suspendia uma licitação para refeições do Supremo Tribunal Federal (STF). O TRF acolheu pedido feito pela Advocacia-Geral da União (AGU) para que fosse mantido o pregão da compra de lagosta. Na decisão, o magistrado diz que não vê “o potencial lesivo” dessa compra de quase meio milhão de lagostas congeladas.

Será que o magistrado vê o quanto não é somente potencial, mas ato concreto e lesivo a impossibilidade de uma mãe não ter condições dignas de criar seus filhos…

O brasileiro está triste! Mesmo os que estão almoçando “como rico” de vez em quando. E não vejo sinal algum de que isso vá mudar tão logo.

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