Análise do resultado das eleições

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Maria Teresa Ferreira, militante do movimento social e luta antirracista da Região Metropolitana de Sorocaba, ativa colaboradora deste blog, volta a contribuir com sua reflexão sobre o momento pelo qual a sociedade sorocabana está passando, do ponto de vista do resultado das eleições.

Boa Leitura!

A dificuldade de exercer a cidadania coletivamente

Por Maria Teresa Ferreira

Lendo as notícias sobre o resultado das eleições, me deparei com duas situações interessantes, ambas de indignação, sem nenhuma proposta de solução, muito pelo contrário.

A primeira dizia respeito as eleições majoritárias municipais, em que teremos um segundo turno que continua uma administração interrompida pela justiça, pois ambos os candidatos foram apoiadores do Crespo, afastado por corrupção ativa. Há os indignados, os inconformados e os revoltados, o que me parece bastante normal.

O que me chamou atenção foi a ausência daqueles que se sentem representados. Talvez minhas redes sociais sejam muito de esquerda, o que pode responder a falta de congratulações para o segundo turno do pleito, mesmo assim, me chama atenção a pouca diferença entre o segundo e o terceiro colocado.

O que me faz pensar em duas hipóteses que no momento derradeiro da campanha ela derrubou aqueles que estavam em cima do muro para o lado errado ou as narrativas de convencimento eram frágeis demais para amortecer a queda.

Fato, é que a cidade está como um meme da internet, “entre um tiro na mão e um tiro no pé.” Diante de tal dilema que fazer? Essas mesmas redes sociais dão importante indicador da resposta, o crescimento dos votos branco e nulo.

Escolher entre perder o movimento da mão e deixar de pedalar, me parece uma boa alternativa para aqueles que não se comprometem com as mudanças necessárias a sociedade, afinal ainda resta os outros membros, ou seja, o decorrer dos próximos 4 anos, será desastroso, mas resta a parte da população que não se compromete o véu da invisibilidade ou o lugar em cima do muro que protege a incapacidade de fazer escolhas que mexem em privilégios e resignificam a vida da população.

A segunda situação diz respeito às candidaturas negras e caminha na perspectiva do pseudo comprometimento com as pautas antirracistas. Anda na contramão das narrativas públicas e inflamadas de apoio, defesa e fortalecimento de lideranças de homens e mulheres, negros e negras. As observações dizem respeito a um comportamento enraizado no pensamento escravista que exige uma ação que transpõe o discurso e se dispõe andar lado a lado na luta antirracista.

A consciência da ação política de votar é coletiva, porque ela atinge a vida de outras pessoas, em ambos os casos a população sorocabana se eximiu do bom uso desse potente instrumento de transformação social.

A câmara de vereadores passou a ser ultraconservadora, continua machista e enfrentará um acentuado processo de retrocesso. Ano que vem os mandados municipais de vereança irão enfrentar por exemplo a saúde pública com déficit em todas as áreas, a volta as aulas sem vacina e o desemprego a níveis galopantes.

Novamente vamos vivenciar um parto sem paternidade responsável. Uma cria que se sustentará nos moldes das sociedades que creditam as responsabilidades administrativas e sociais as instituições, como se fosse possível elas brotarem do chão para dentro do Palácio dos Tropeiros.

Então, tenho algo a dizer que talvez possa magoar você pela força do óbvio: seu voto é responsabilidade sua, ou seja, você é o responsável pelas consequências dele.

Na medida que a presença das minorias politicas está ausente da câmara de vereadores e o Palácio do Tropeiros permanece fortalecido pelo interesse das elites patrocinadoras do desmonte da saúde, educação e trabalho, os problemas da cidade vão encontrar um abismo ainda maior para encontrar caminhos que possam atender a população pobre, preta e feminina da cidade.

A construção da democracia é feita de muitos passos, Sorocaba infelizmente ainda nem aprendeu a engatinhar.

Maria Teresa Ferreira é do Conselho Municipal de Participação e Desenvolvimento da Comunidade Negra de Sorocaba; conselheira da Unegro (União de Negros pela Igualdade de Sorocaba) e militante do movimento social e luta antirracista da Região Metropolitana de Sorocaba.

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