Ataque de prefeito a jornalista é tentativa de intimidação de toda imprensa

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MarcelinhoCruzeiroO prefeito Crespo se incomodou com informação publicada pelo jornalista Marcelo Andrade Santos no jornal Cruzeiro do Sul na semana passada, dando conta que ele fez reunião de emergência com grupo de secretários logo após manifestação do Ministério Público (que horas depois foi desconsiderada pelo fato do promotor afirmar que se tratou de um equívoco).

Ato 1 do prefeito

O prefeito se defendeu, através da própria página do site da Prefeitura, no domingo (9 de julho), com uma “Nota de correção do erro do jornal Cruzeiro do Sul”, onde se firmou: “Ao contrário do que afirma saber a coluna Informação Livre publicada pelo Jornal Cruzeiro do Sul deste sábado (08), o prefeito José Crespo não fez uma reunião de emergência com um grupo de secretários, pois estava em compromisso fora de Sorocaba. E o secretário de Assuntos Jurídicos e Patrimoniais, Eric Vieira, estava em São Paulo. Não houve derrota na questão da Comissão Processante. Não foi dada a liminar, mas o juiz reconheceu o direito da Prefeitura, o que será decidido no julgamento do mérito. Ainda é importante destacar que a posição do promotor saiu no final do dia e foi logo invalidada, dado o seu total despropósito. Portanto, não havia e não há revezes. A coluna errou ao não apurar corretamente a informação. E a Secretaria de Comunicação e Eventos não foi consultada pela reportagem sobre a veracidade da informação quanto a essa reunião. Quanto aos cargos que serão criados e que a coluna afirma ser para comissionados de livre provimento, a informação não procede, pois trata-se de cargos para funcionários de carreira que serão utilizados para promover servidores concursados. A coluna erra, mais uma vez, ao não apurar corretamente os fatos, pois a informação também não procede”.

Ato 2 do prefeito

O jornalista Marcelo Andrade tratou de reafirmar sua colocação inicial, na segunda-feira (dia 10 de junho), dizendo que tinha três fontes diferentes que confirmavam o que ele dizia em sua nota inicial, publicada no sábado, 8 de julho, um dia depois do ofício equivocado do promotor que ocorreu na sexta-feira 7 de julho.

A reafirmação de Marcelo sobre suas notas, como concluo a partir do teor da nota do prefeito publicada no site da prefeitura, desagradou ainda mais o prefeito e, na terça-feira, dia 11 de julho, o prfeito se aproveitou de um momento que falava ao vivo no jornal da Cruzeiro FM e passou a desferir ataques contra Marcelo Andrade dizendo, pelo que apurei, que se trata de um jornalista mentiroso, inventor de notícias, que está a serviço de alguém, que ele, prefeito, já havia reclamado à direção do jornal de Marcelo Andrade, mas que não adiantou nada, que o editor-chefe é conivente e está mancomunado com Marcelo Andrade. Ou seja, culpou a janela pela feiura da paisagem num tom absolutamente inaceitável.

Ao desferir tais agressões contra o jornalista, ao vivo, num programa de rádio, o prefeito fez da sua fala uma tentativa de intimidação de toda a imprensa. É como se desse um recado: se falarem o que não gosto, ou o que não concordo, vou para cima e, inclusive, pedir a cabeça de vocês aos seus chefes.

É inaceitável essa atitude do prefeito, assim como é de promotor, juiz, vereador que age da mesma maneira. O prefeito, e autoridades correlatas, que tem estabilidade no emprego pois ocupam cargo de concurso público ou cargo eletivo com prazo específico para atuar, com salários bastante acima da média do brasileiro (o prefeito ganha por mês R$ 28 mil), chama para a briga um jornalista cujo a média de salário varia de R$ 3 a R$ 5mil por mês, ou seja, as autoridades além da estabilidade ganham 6 ou 10 vezes mais que o jornalista. O jornalista presta um serviço público, pois dá luz a fatos que são de interesse da sociedade, mas numa empresa privada cujo as regras são as do mercado. Ele não tem nada, nem garantia do emprego.

Isso, apenas, reforça o despropósito do ato de Crespo (e, repito, das autoridades correlatas quando agem de modo igual ao que Crespo agiu) contra Marcelo Andrade e o que denota de ameaçador a toda uma categoria.

Levanto aqui a bandeira da transparência e de que todo jornalista não se deixe intimidar  pelo prefeito (ou qualquer outra autoridade) e siga manifestando o livre pensamento através de informações ou opiniões. Ser jornalista é abraçar uma missão, a de dar luz a tudo que diz respeito a que quem detém o poder e nem sempre quer no foco oq eu se diz ou pensa sobre eles.

E a quem pergunta sobre abusos ou erros dos jornalistas tenho uma única resposta: use o mesmo espaço de onde sentiu-se agredido ou ofendido para se defender. Estou certo que nenhum jornalista, ou veículo, vai impedir isso. E caso impeça, pelas razões que entender para tal atitude, há o caminho da justiça. Agora, agredir ou ameaçar é absolutamente inaceitável na medida em que se trava uma briga de forças absolutamente desiguais.

Sindicato reage

Fabiana Caramez, representante regional do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo, em sua página no facebook, abominou a atitude do prefeito em relação ao jornalista Marcelo Andrade e entende que foi um comportamento de quem viveu no período da ditadura, onde a imprensa não tinha a liberdade que tem hoje para trabalhar. Ela afirma, ainda, que vai acionar o prefeito na justiça.

Leia o que ela escreveu: Mais um episódio lamentável desse prefeito que tenta calar a imprensa agredindo os profissionais que trabalham para levar à população informações relevantes. Bravatas, agressões verbais, tentativa de desqualificação profissional são os métodos usados por esse prefeito para intimidar os profissionais de imprensa. Postura que não condiz com alguém que ocupa um cargo de tamanha importância. O Sindicato dos Jornalistas Regional Sorocaba está juntando os pronunciamentos do prefeito para acionar os órgãos competentes a fim de impedir a continuidade dessas agressões aos profissionais de imprensa. Ditadura nunca mais!

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