Campanha chega ao final e os cinco candidatos a prefeito de Sorocaba focam as soluções para o maior problema apontado pelo eleitor da mesma forma, olhando para a doença e não para a prevenção da saúde

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saudeA pesquisa Ibope/TV Tem divulgada no dia 15 de setembro passado traz uma série de elementos a respeito do comportamento do eleitor (um raio-x do momento em que os dados foram colhidos), no primeiro terço deste mês. A pesquisa apurou intenção de votos, rejeição, indefinição, nível de interesse na eleição, mas um item mereceu atenção especial deste blogueiro manifestada não apenas neste blog, mas durante as entrevistas na coluna O Deda Questão no Jornal da Ipanema (FM 91,1Mhz) e nas entrevistas na ITV: a saúde. Este é o maior problema da cidade apontado pelo eleitor e que é o desafio do próximo prefeito que assume a partir de 1º de janeiro de 2017 e cumpre mandato até 31 de dezembro de 2020. Quando o Ibope/TV Tem perguntou ao eleitor sorocabano qual o maior problema da cidade, 57% dos entrevistados disseram que é a saúde. Quando perguntado quais os três maiores problemas, a Saúde volta a ser destaque com 82% e lidera a lista de 3 itens. A saúde já era apontada como o maior problema na reeleição de Renato Amary em 2000, na primeira eleição de Vitor Lippi (que era secretário da Saúde de Renato) em 2004; na reeleição de Lippi em 2008 e na eleição de Pannunzio (que teve Lippi cabo cabo eleitoral) em 2012. Neste ano, segue como o maior problema da cidade.

 

Muitos fatores contribuem para essa percepção do eleitor, a principal delas é que a saúde é um problema nacional, estadual e de cada um dos municípios do país com raras e honrosas exceções. Falar saúde também é uma maneira do eleitor não se comprometer, afinal é mais fácil apenas repetir o que está todo mundo dizendo. Pessoas que nem usam o serviço público, quando entrevistadas, dizem que o problema é a saúde. Portanto, ai é apenas uma percepção minha, talvez o problema maior não seja a saúde e o eleitor ainda não está apto para perceber isso. Aliás, isso é muito comum, as pessoas não terem condições de compreender o que sentem.

 

Mas digamos, apesar da minha desconfiança, que o problema seja mesmo a saúde como afirma o eleitor. Aliás, foi aceitando o que disse o eleitor que conduzi entrevistas e manifestações ao longo de todo o período eleitoral que chega ao final. Preferi aceitar e deixar este debate sobre se de fato é este o maior problema da cidade para este momento pós-eleição.

 

Apesar de ideologias bastante distintas estarem representadas nas 5 candidaturas a prefeito. Crespo, João Leandro e Hélio Godoy representam o eleitor mais conservador e uniram suas candidaturas em torno de partidos mais de centro para a direita; e de Raul Marcelo e Glauber Piva representarem o eleitor mais de centro para a esquerda e não se uniram a nenhum outro partido (não importa aqui discutir as razões, mas apenas constatar que não se coligaram com ninguém), nada difere a opinião deles a respeito do diagnóstico e solução da saúde. Ou seja, mesmo com um espectro ideológico variado e experiências pessoais e públicas variadas, os 5 candidatos trataram o sentimento do eleitor da mesma maneira. Para os 5, o maior problema de Sorocaba (e que é o maior desafio do próximo prefeito) merece o mesmo tratamento. Todos focam as soluções para o maior problema apontado pelo eleitor da mesma forma, olhando para a doença e não para a prevenção da saúde. Um resumo comum de todos os candidatos é o mesmo: fazer mutirões para acabar com filas, ampliar horário de atendimento, construir mais unidades pré-hospitalares ou de clínicas de especialidades, ampliar o acesso do cidadão ao médico (seja por cartão convênio ou contratando mais médicos)….

 

Me frustro com esse comportamento. E, mais, acho que não se diferenciar num processo eleitoral tão curto, onde o que se deseja é convencer o eleitor a escolher a ele, é jogar fora uma oportunidade de se sobressair.

 

Me coloco no lugar dos 5 candidatos e no lugar do eleitor que respondeu neste ano, e que vem respondendo à pesquisa Ibope há 20 anos da mesma maneira, e confesso que esperava ver alguém botar foco na prevenção da doença. Onde e quando as pessoas “se largam”? Quando deixam de comer saudavelmente e se enchem de junk food? Quando deixam de cozinhar e passam a se entupir de “comida” industrializada? Fosse candidato diria ao eleitor que ele só teria direito a passar pelo médico pela segunda vez apenas quando cumprisse o que ele determinou na primeira consulta. Por que a sociedade deve cuidar (o que significa gastar milhões) de quem não se cuida? Posso errar a cifra (50%, 70%), mas sei bem que a extrema maioria das pessoas que buscam acesso à saúde pública sofre de hipertensão (pressão alta) ou diabetes (que tirando exceções genéticas é como a hipertensão, uma doença do estilo de vida e do que come o paciente). É como enxugar gelo.

 

Um programa de saúde, de qualquer prefeito, é aquele que estimula e até obriga as pessoas a entenderem o próprio corpo. O cidadão precisa entender a importância do exercício físico e da alimentação saudável. Um gestor da saúde é o que vai à justiça contra empresas de junk food que gastam bilhões em publicidade em TV e outdoors para atrair o cidadão, tirar o dinheiro dele e devolvê-lo para as filas das unidades públicas de saúde. Ai ele reclama que a saúde que a prefeitura oferece para ele é ruim. O prefeito da saúde será aquele que combater os malefícios que o pó branco (Farinha, Sal e Açúcar) faz ao cidadão. Talvez isso não dê voto. Mas talvez dê. Chega de passar a mão na cabeça do cidadão. Chegou o momento dele ser tratado como adulto, ou seja, alguém que se responsabiliza pelos seus atos. É disso que os políticos têm medo, de serem rejeitados pelo cidadão que não quer crescer.

 

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