Aos poucos fui entendendo a morte da compositora Marília Mendonça. De imediato, lamentei a sua perda como lamentei outras perdas de jovens, famosas ou não, no auge da vida que é interrompida pelo imprevisível, incontrolável e acidental de uma tragédia como a que a matou junto de mais quatro colegas de trabalho.
Minha amiga Márcia Teixeira, irmã da Inês, minha contadora, escreveu no finalzinho da tarde de sexta-feira, o dia da tragédia, um agradecimento a Marília Mendonça pelas letras das músicas que ela escreveu, letras essas que “empodederam as mulheres, tornando-as independentes, fazendo com que cada uma sentisse orgulho de si mesma; você foi grande e transformou as mulheres em grandes mulheres”.
Com essa mensagem tive uma breve noção da sua importância para as mulheres. Inclusive para uma de minhas filhas que foi quem já há alguns anos me falou de Marília Mendonça, mas eu não fui sensível para perceber o que minha filha talvez quisesse me dizer e tentou me falar através dela. Tive noção da minha ignorância sobre a mensagem de suas letras, apenas em momento tão inoportuno, que é o de sua morte.
Do ponto de vista político, me chamou atenção descobrir o fato de que em 2018 Marília Mendonça ter sido uma das poucas artistas desse gênero chamado sofrência, sertanejo, forró universitário, a ter alertado para o perigo da eleição de uma pessoa como Jair Bolsonaro. Não é pouco essa sensibilidade e muito menos a coragem de não se aproveitar da boa onda (quem colou em Jair em 2018 se deu bem em todos os sentidos) para obter benefícios pessoais.
Esse dado aumentou meu interesse em saber um pouco mais sobre Marília Mendonça. Gostei do que vi em seus posicionamentos, mas, confesso não mudou minha opinião sobre a sua música. Não me atrai nenhum desses ritmos, batidas, tons cantados por Marília. E sigo não gostando mesmo após sua morte. Tivesse ainda viva, seguiria não ouvindo sua música. Assim como não parei para ouvir, e ainda mudei de estação, desde sexta-feira quando rádios e TVs inundaram as ondas com sua música.
Marília Mendonça era maior do que sua música. E lamento só ter aprendido isso após a tragédia que ceifou-lhe a vida. Gal Costa e Caetano Veloso, artistas que cantam o que gosto de ouvir, perceberam isso enquanto ela viveu e, ainda bem, foram capazes de dividir parceria musical (caso de Gal) e lhe homenagear (caso de Caetano que a cita numa de suas músicas).
Seu último show foi aqui em Sorocaba, dia 1º de novembro, e Marília deixou sua marca presente. Ela parou de cantar e pediu para que o segurança tirasse do recinto um homem envolvido numa briga e que agredia fisicamente com socos uma mulher. Ela combatia com garra o feminicídio.
Para seus fãs, sua música fará falta. Para as mulheres, suas letras farão falta. Para a sociedade, seu posicionamento político fará falta. Desculpe te conhecer assim, numa hora tão ruim!