Dilema do trem (da vacina)

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Há 54 anos, em 1967, o ano em que eu nasci, a filósofa britânica Phillipa Foot criou uma questão em voga ainda hoje para entender o comportamento humano com o chamado Dilema do Trem. São várias as traduções e personagens deste dilema. Escolhi essa para o meu leitor:

O maquinista de um trem desgovernado na qual está em uma velocidade de 100 km/h. À frente dos trilhos estão cinco operários trabalhando. Você, motorneiro, tenta parar, porém não consegue, pois os freios estão quebrados. Ocorre que a esta altura o leitor sabe que, se não fizer nada, o bonde seguirá seu destino e os operários morrerão. Contudo há um desvio à direita, cujos trilhos estão ocupados por somente um operário. Matando o operário que está à direita, você salva cinco vidas. Não fazendo nada, você sacrifica cinco vidas. Eis o dilema: é ética a ideia de matar um para salvar cinco? Ou melhor: é legítimo assassinar um indivíduo inocente?

As respostas passam por visões utilitaristas do mundo, visões éticas, crenças… enfim… já adianto que não existe uma resposta certa. Existe tendência que ajudam a ciência a explicar quem somos nós, em qual contexto e suas implicadas relações.

Bom, se alguém tem dúvida sobre o que é dilema, lembro que na filosofia é uma situação na qual um agente é moralmente obrigado a seguir um curso de ação A ou um curso de ação B, mas não pode seguir ambos. Nesse contexto, realizar a ação A implica em não fazer a ação B e vice-versa.

No momento, perlas regras do governo, são vacinadas pessoas de 55 a 59 anos com comorbidade. Uma amiga, que encontrei ao acaso hoje na padaria, me perguntou se eu já fui vacinado. E ela me instigou com sua indignação sobre a quantidade de falsos atestados médicos que estão circulando sobre pessoas que alegam comorbidade. Falsos no sentido de terem sido inventados pelo usuário e, também, no sentido de algum médico amigo do paciente lhe dar o atestado de comorbidade, mesmo que o paciente não tenha.

Lembre-se: o paciente que usa um atestado falso (seja dado pelo médico ou não) significa que ele prefere salvar a sua vida se antecipando na fila para receber a vacina que lhe garante mais imunidade diante da Covid19. A mim, tal atitude, lembrou o dilema do trem. E como tal, não existe resposta certa. Apenas aponta a tendência, ou seja, o brasileiro segue dando um jeitinho nas coisas para se dar bem, afinal o “importante é levar vantagem em tudo, certo?”, como dizia o slogan da marca de cigarros Vila Rica, nos anos 70, tendo como garoto propaganda o famoso jogador de futebol, à época, Gérson.

Tivesse Jair feito a lição de casa, e hoje a CPI da Vacina mostrou mais uma vez que ele não fez e ainda atrapalhou quem estava fazendo, o brasileiro estaria livre deste dilema. Mas não está. Tendo a chance de mentir, com um atestado médico falso, para tomar a vacina antes de seu “irmão” que não tem o atestado, como você agiria?

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