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A morte de Marinho Peres, aos 76 anos, anunciada na noite de segunda-feira, é daquelas que calam fundo. Ele não é parente, mas é como se fosse. 

Me lembro, quando eu tinha 7 anos de idade em 1974 e a dupla de zagueiros da Seleção Brasileira naquela Copa ser formada por nossa gente. Era o que ouvia, com orgulho, não pelo fato de Luís Pereira e Marinho Peres serem brasileiros, mas por serem sorocabanos.

Depois dele ter sido revelado no Estrada, onde igualmente eu fui quarto-zagueiro como Marinho, ele se profissionalizado no São Bento e se consagrou no Palmeiras, Portuguesa, Santos, Internacional e seleção. Jogou e virou ídolo no Barcelona da Espanha, país de onde fugiu por ser convocado para servir o exército do ditador Franco. Ele jogou lá com dupla nacionalidade, afinal além de Peres, seu sobrenome também era Ulibarri. Em Portugal, onde jogou e se tornou técnico, Marinho era endeusado. 

Numa de suas passagens pelo São Bento, como técnico, num jogo de uma quarta-feira à noite, tive um episódio que, depois, rendeu boas risadas. Molina, Branquinho, Deise e eu saímos do jornal mais cedo e fomos ver o jogo. Da arquibancada comecei a gritar: Marinho Peres burro. E fazia um efeito sonoro buuuurrrrroooo. Dávamos muita risada, pois é o que sobra pra quem torce pelo São Bento. Rir da própria desgraça do time em campo. Sempre foi assim. 

Um dia, no Bar do Fundão, como a gente chamava o quintal do Zezo Lázaro, saudoso bicheiro, local que frequentava a nata da boêmia sorocabana, chegou Marinho. E depois de muito vinho lhe contei o episódio do burro. Foram novas risadas. 

Uma outra vez, no bar Sujinho da subida da rua Consolação, em São Paulo, nos encontramos ao acaso. Ele tinha orgulho de Sorocaba e fazia festa toda vez que encontrava um sorocabano.

Zezo me contou que Marinho descia a avenida Eugênio Salerno escondido do pai, o respeitado médico dr. Peres, para jogar no Peladão do Scarpa, onde fica hoje o Shopping Sorocaba. Ele era inteligente, mais do que os outros que jogavam ali, e por isso se deu bem, porque tinha uns dez melhores que ele no Peladão. Zezo se divertia contando isso. Ele tinha orgulho de Marinho e Marinho sempre o reverenciou.

Há alguns anos, antes da pandemia de Covid-19, Marinho sofreu um AVC que lhe tirou a qualidade de vida. Há um mês estava internado no Hospital Unimed onde tratava uma pneumonia. Como disseram amigos e parentes, ele descansou. Estava sofrendo muito sem sua saúde. A imprensa do Brasil noticiou sua morte o que é indicativo de sua importância para o mundo do futebol. Para mim, é como se mais um pedacinho da minha história tivesse morrido junto.

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