No dia 24 de maio de 2019, quando a Operação Casa de Papel da Polícia Civil de Sorocaba, que apurava desvios de dinheiro na Prefeitura de Sorocaba, cumpria mandados de busca e apreensão nas casas de então três secretários municipais e formaliza que o prefeito Crespo passava a ser investigado por aqueles crimes, Márcio Leme, advogado de defesa do então prefeito me disse sobre o desfecho de tudo: “Qualquer informação sobre isso ou qualquer outra dúvida será apenas especulação. É uma decisão do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo. Temos que aguardar” (https://odedaquestao.com.br/operacao-casa-de-papel-entra-na-segunda-fase-entenda/).
E isso foi feito durante os últimos três anos, um mês e quatro dias: Aguardar!
Agora, a decisão do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado) do Ministério Público, em documento assinado em 9 de junho, mas que foi divulgado na última terça-feira, afirma: A densa massa de provas relacionadas aos crimes de organização criminosa, crimes licitatórios, corrupção e outros, que instruem a ação do caso, não restou configurada por ora, a lavagem de capitais.
Traduzindo, não serviu para nada. Isso do ponto de vista legal. O trabalho do então delegado Marcelo Carriel, do ponto de vista político, foi exemplar.
Em sua rede social, Crespo – que além de ter perdido o mandato de prefeito, perdeu sua reputação – desabafou: “Folha 184 (processo 1503696): “Não existem os indícios noticiados nos autos contra o prefeito José Crespo”, ou seja, “as acusações eram falsas e fizeram parte da armação política para derrubá-lo e tomar indevidamente o poder em Sorocaba”.
É o que sobra. Desabafo!
Infelizmente, nada que vier a acontecer agora vai apagar tudo o que os acusados viveram, sofreram e perderam. E ninguém se importa com isso. Porque se importar, necessariamente, fará com quem cada um olhe pra si mesmo e diga de que forma participou, contribuiu ou colaborou para a dor deles. E ninguém quer isso. Dizer que o problema é do outro, e eu não fiz nada, é mentiroso, mas o mais simples.
A verdade é que essa decisão da justiça não faz nada voltar atrás. Os investigados foram condenados na investigação e a pena foi terem sido cancelados.
E isso não se refere a somente a Crespo que foi eleito com mais de 125 mil votos e na eleição seguinte teve míseros 500 votos. Diz respeito a quem caminhou com Crespo e não consegue, por causa disso, arrumar um simples emprego, pois quando vêem quem é preferem contratar outro. Diz respeito a quem viu a família ruir e os “amigos” se afastarem.
Ouvi de um dos acusados, que foi conduzido à delegacia, que irá processar o Estado por danos morais para tentar ganhar algum dinheiro.
Ouvi que estudam uma forma de acionar o delegado Carriel na justiça, alegando uso político da polícia.
Pouco importa, pois nada disso vai reparar a dor que apenas quem a viveu pode dimensioná-la. E viver a dor não se compara a imaginá-la.