Estratégia de escandalizar para obter propaganda gratuita de sua ideologia

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A jornalista Thaís Oyama (experimentada profissional da imprensa brasileira com passagens importantes em cargos de destaque na Folha de S.Paulo e Veja) lança nesta sexta-feira, dia 17 de janeiro de 2017, o livro “Tormenta – O governo Bolsonaro: Crises, intrigas e segredos” (Companhia das Letras) com informações dos bastidores do governo e da família Bolsonaro, resultado de depoimentos de pessoas próximas ao círculo íntimo do presidente do Brasil.

No livro se descobre que “Jair Bolsonaro tem raciocínio binário, dizem conhecidos de longa data”, registra a autora. “Quem não é seu amigo é seu inimigo. E enquanto os amigos de verdade são poucos, os inimigos estão em toda a parte.”

Na reportagem de 272 páginas, entre outras tantas coisas que eu, particularmente, estou curioso em saber, consta que o general Augusto Heleno, ministro- chefe do GSI (Gabinete de Segurança Institucional) estava com Bolsonaro em um encontro com empresários em São Paulo e num intervalo dessa reunião, Heleno se afastou de todos e, sem saber que estava sendo gravado, disse ao celular: “O cara não sabe nada, pô! É um despreparado”.

Ao longo da trajetória de Bolsonaro, do desacreditado momento do lançamento de sua candidatura até o instante em que ele passou a ser aposta da elite brasileira (que deixou Geraldo Alckmin falando sozinho e decidiu eleger Bolsonaro) há uma estratégia de usar a força da mídia tradicional, das redes sociais, a favor de suas idéias, ou seja, lançam-se ao vento agressões, absurdos, mensagens imbecis que indignam as pessoas e elas explodem essa indignação propagando espontaneamente, de graça e velozmente o que é de interesse dos ideólogos de extrema-direita do presidente.

Eu achava que isso não tinha limite.

Ainda bem que tem.

O então secretário nacional de Cultura, Roberto Alvim, ultrapassou esse limite. Ele copiou a proposta nazista ao propor uma nova arte para o Brasil reproduzindo uma fala de Joseph Goebbels, ideólogo da propaganda nazista, ao propor uma nova arte para o Brasil: “A arte brasileira da próxima década será heroica e será nacional. Será dotada de grande capacidade de envolvimento emocional e será igualmente imperativa, posto que profundamente vinculada às aspirações urgentes de nosso povo, ou então não será nada”, disse ele.

Goebbels já havia dito o mesmo no auge do nazismo: “A arte alemã da próxima década será heroica, será ferreamente romântica, será objetiva e livre de sentimentalismo, será nacional com grande páthos e igualmente imperativa e vinculante, ou então não será nada”, afirmou.

Tem limite porque Bolsonoro demitiu Alvim. Não pela indignação generalizada (a mesma que propaga gratuitamente suas ideias). Não pela pressão dos presidentes da Câmara e do Senado. Não pela pressão dos seus pares militares. Não só, pelo menos. Acredito que um dos parceiros de primeira hora do governo Bolsonaro, Israel, o Estado que centraliza na geopolítica o mundo judeu (do povo vítima do nazismo enaltecido pelo ministro de Bolsonaro) tenha pesado na decisão, tão rápida, tomada pelo presidente.

O despreparado Bolsonaro, como frisou o general Heleno, vai aprendendo na marra os limites do seu status quo.

Enquanto a economia der sinais de recuperação e credibilidade, Bolsonaro terá espaço para impor à sociedade sua estratégia de escandalizar para que a imprensa e as redes sociais façam propaganda gratuita de suas ideias de extrema-direita.

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