Ex-vereador do PT sorocabano teme por ditadura com derrota de Haddad

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Nenhum sorocabano (nem parlamentares, membros do partido ou simpatizantes do PT) gravaram selfies com Haddad dirigidos especificamente ao eleitor sorocabano. Mas há uma campanha de resistência ao avanço de Bolsonaro, e de esperança por sua derrota, entre esse núcleo de pessoas aqui na cidade.

O motivo central da resistência deles à Bolsonaro diz respeito a quem é o candidato que caiu nas graças do eleitor brasileiro, ou seja, defensor de torturador, que nega o golpe militar de 64, que não respeita os direitos das mulheres, que agride minorias. Enfim: por todas as posições de Bolsonaro que se traduzem em falas anti-humanitárias, racistas, homofóbicas e totalitárias.

Para explicar esse sentimento, entre tantas manifestações possíveis, escolhi a do ativista ambiental e ex-vereador da Câmara de Sorocaba pelo PT (hoje ele não é mais filiado ao partido) Gabriel Bitencourt. Num texto tenso, ele conta sobre seu temor com a volta da ditadura numa eventual derrota de Haddad e relembra fatos vividos por ele no período do regime militar.

Leia a íntegra da manifestação de Gabriel:

O momento em que o coração sai do peito.

Esses tempos difíceis me trouxeram à memória um fato que eu nem mais lembrava.

Já era fim da ditadura militar no Brasil.

Fui com minha namorada a uma manifestação – escondido de meus pais, evidentemente – marcada para a frente do teatro municipal de Ribeirão Preto.

Quando chegamos, atrasados, a polícia já mandava gás lacrimogênio e “descia” os cassetetes.

Chegamos e, imediatamente, saímos correndo.

Ao nosso encalço dois ou três raivosos brutamontes.

Ao virarmos a rua vimos um prédio de três ou quatro andares com um bar na esquina.

Nos deparamos com a porta entreaberta do prédio e entramos para nos esconder.

Uma senhora, moradora do prédio e que, de sua janela nos viu entrar, sem nenhuma empatia para com aqueles dois jovens adolescentes, pôs-se a gritar: “fora daqui seus baderneiros! Vão enfrentar a polícia”!

Aquele fato me marcou profundamente.

Eu não sabia quem era ela e, tampouco, ela sabia quem era aquele garoto e aquela garota que buscaram proteção nas escadas de seu prédio, mas a falta de empatia e sua intenção de nos empurrar para sermos trucidados pelos cassetetes me marcou.

Sempre lutei para que esses tempos não mais voltassem, mas, ultimamente, seu fantasma vem nos assombrando fortemente.

Estou muito triste com a presença concreta deste fantasma, mas há uma outra tristeza.

Esta, muito profunda.

Nunca imaginei que entre as pessoas de meu círculo mais próximo – algumas que, até, se dizem cristãs – houvesse quem votasse em um candidato:

  • Que tem como ídolo um monstro torturador. Talvez, o mais sanguinário e sádico entre todos;
  • Que propõe acabar com o ministério do meio ambiente; acha que temos reservas demais e que temos muito, ainda, que desmatar a floresta amazônica;
  • Que pretende abandonar o Acordo de Paris e acha a caça de inocentes animais silvestres um “esporte saudável”;
  • Que acha que mulher deve ganhar menos pela mesma função exercida por um homem;
  • Que prefere ter um filho morto do que um filho gay…

Por tudo isso e por tantas outras absurdas declarações; por todas as posições anti-humanitárias, racistas, homofóbicas e totalitárias desse candidato nunca achei que ele poderia ter uma votação expressiva em uma eleição presidencial.

Não achava que encontraria entre seus adeptos e admiradores amigos e parentes.

Pelas declarações daquele nefasto candidato eu sei que – uma vez no governo (três batidas na madeira) – eu serei um de seus alvos (esquerdista e ativista socioambiental).

A intensidade e o modo como nos perseguirá, só o tempo dirá!

Duvidarão alguns de seus eleitores atuais: será que ele promoverá todas as atrocidades às quais se propõe?

Quando Hitler foi eleito dizia que faria barbaridades. Tempos depois, seus eleitores, disseram que não acreditavam que ele cumpriria o que propunha.

Nosso Hitler tupiniquim já disse tudo que fará como, por exemplo, “metralhar essa petralhada, aqui do Acre”.

Ganhando (três batidas na madeira) ou não, eu juro, não saberei mais como conviver com gente que apoiou este monstro, sejam amigos distantes, próximos ou, mesmo, parentes – é numa hora grave como esta que o coração sai do peito e mostra sua identidade.

Aquela mulher do início do texto, não conhecia aquele jovem – hoje, um senhor, já, na terceira idade -, mas as pessoas que me são mais próximas e que me conhecem, ao votar no Bolsonaro, estão mandando a mim, os ativistas socioambientais, os dos direitos animais, as pessoas de ideologia de esquerda e tantos outros para a linha de tiro daquele que ontem falou: “Essa turma, se quiser ficar aqui, vai ter que ficar sob a lei de todos nós ou vão pra fora ou vão pra cadeia”.

Em tempo: empatia teve um amigo que mora na Suécia e que viveu os tempos sombrios da ditadura do Pinochet, no Chile, ao dizer a mim e à minha esposa: “se precisarem sair do Brasil, meu amigo, podem vir com a roupa do corpo que nós os acolheremos”.

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