Força-tarefa do presidente existe na rede, não na vida real

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Embarquei em duas viagens por aplicativo hoje (o 99 é o mais eficiente e eficaz para mim) e imaginei que ouviria dos motoristas alguma coisa ligada com os assuntos deste ano: Eleições (este é o primeiro ano do resto de nossas vidas), Copa do Mundo (antes de sua profissionalização, a verdadeira paixão nacional), Nova onda do Covid (há uma avalanche de novos casos).

Na ida, Fernando, 63 anos, aposentado, que se dispôs a trabalhar no aplicativo em razão de seus três filhos, que haviam comprado à prazo o carro para trabalhar, terem pego Covid em 2021 e um deles ter ficado 92 internado sob o risco de perder a vida (mas como ele mesmo disse, graças à Deus, seu filho está bom), e sem os três poder trabalhar eles atrasaram o pagamento de 4 prestações e quase perderam o veículo. Explicado isso, ele tratou de falar do que gosta: a palavra do senhor. Ele é membro da Coração de Jesus da Paróquia São José da Vila Progresso. Minha mãe, quando viva, presidiu o Coração de Jesus da Igreja Santa Rita na Vila Santana. Falou dos milagres da vida, das provações que as perdas de entes queridos nos impõem, deu um depoimento de fé muito lindo. Seo Fernando ganha a vida como motorista, mas usa do seu serviço para fazer o que verdadeiramente gosta, falar da fé.

Na volta, Ricardo, 33 anos, nascido e criado em Santo André, há três anos veio em busca de um emprego em sua área aqui em Sorocaba, nunca conseguiu se firmar e desde então ganha a vida no aplicativo. Ele estava bem à vontade, de bermuda, vidros abertos, reclamou do calor (o esporte preferido nos últimos dias), dos motoristas sorocabanos que comem a faixa e não dão seta. Dos buracos nas ruas. Falou da comida de um restaurante quando passamos na frente dele, mas praguejou o preço de uma Coca-Cola KS que lhe cobraram R$ 11 cada uma. A cerveja, dessas comuns, cobra R$ 25. Mas, ele enfatizava a comida, que rabada bem temperada, que costela macia… Ricardo, como eu, é gordinho e adora comida…

Quando decidi fazer o que precisava de aplicativo pensei que iria encontrar o que encontro nos grupos de whatsapp: um exército de bozoistas (súditos do presidente) propagando – numa clara força-tarefa – boas ações do governo. Num desses grupos, quando chegou a primeira mensagem, um outro membro já botou lá se tratar de fake News e dava a fonte comprovando a mentira, mais uma, dos ideólogos do presidente.

Mas não encontrei nada disso dentro dos carros de aplicativo que usei hoje. A vida real sempre esteve dentro dos táxis. Há décadas essa foi a realidade. Terá mudado e estou defasado?

O fato é que a força-tarefa do presidente, por enquanto, está nas redes. Eles, os bozoístas, têm convicção de que logo-logo estará na vida real. Eu, não. Enquanto a gasolina estiver a R$ 7 (foi o que o seo Fernando me disse que pagava o seu litro, eu ainda pago R$ 6,19 no meu), a carne no patamar de R$ 45, o botijão de gás a R$ 110… não creio que a propaganda dos bozoístas terá efeito. Assim espero. Seria burrice demais dar uma nova chance a alguém tão incapaz para exercer novamente o cargo mais alto do executivo do Brasil.

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