Rafael Nadal evitou uma zebra em sua estreia em Wimbledon 2022 e venceu o jovem argentino Francisco Cerúndolo depois de mais de 3 horas e meia de partida na última terça-feira.
Tênis parece um jogo físico, e o é evidentemente, mas é muito mais metal, estratégico e psicológico.
Em uma partida de tênis são 12 juízes divididos em juiz de cadeira, juiz de rede, juízes de linha lateral e central, juízes de serviço e juízes de saque.
Ainda no primeiro game do primeiro set, a TV deu um closet em Cerúndolo quando o jogo estava parado e quem apareceu em segundo plano foi um juiz de linha. Sua aparência é antagônica ao tênis ou qualquer outro esporte: era um gordo mórbido. Não era gordo apenas, mas muito gordo.
Para estar trabalhando em Wimbledon, um dos mais tradicionais e importantes torneios do mundo, seguramente esse árbitro tem qualidade incontestável.
Não pude evitar de me lembrar de um episódio, ocorrido há uns 15 anos, quando o ex-prefeito Renato Amary foi eleito deputado federal e formava a sua equipe de trabalho. Ele escolheu quem seria próximo a ele e delegou a essas pessoas próximas a contratação do restante da equipe. Depois de analisar vários currículos um desses assessores escolheu uma pessoa e outra assessora vetou o nome sob o argumento de não ser confiável. Então o assessor questionou: como você sabe, você nem o conhece. E a assessora retrucou: ele é gordo. E gordo não é confiável.
Quando eu estava no jornal Bom Dia, que era em rede, ouvia histórias dos bastidores dos principais veículos do Brasil e soube de demissões no Estadão, Folha, Abril pela razão da pessoa ser gorda. Recentemente, com o advento das redes sociais, os gordos demitidos denunciam o motivo. Há casos notórios, dois ou três deles na TV Vanguarda cujo o dono é Boni, o todo poderoso do início da rede Globo.
Fico pensando se os ingleses são diferentes pela presença do gordo mórbido como juiz no jogo que vi nesta terça-feira. Ou se há uma história por trás, tipo o juiz de linha ter entrado na justiça e ter ganho o direito de exercer seu trabalho. Pois de todas as histórias do Brasil, essas que relatei, incluindo a do ex-deputado sorocabano, há a negação de que o gordo é rejeitado por ser gordo. Sempre se arruma uma desculpa social e juridicamente aceita. Nunca lhe dizem: não te quero porque você é gordo. O preconceito é dissimulado.
Os números mostram que gordo não quer ser gordo, raríssimas são as exceções. Prova disso é que entre 2011 e 2018 o número de cirurgias bariátricas no Brasil aumentou em 85% e houve uma explosão de clínicas que buscam clientes para auxiliar a eles no emagrecimento. Seja qual for o caminho escolhido, há a necessidade de um acompanhamento profissional para o lado emocional de cada gordo, pois quase sempre a comida (em excesso e de qualidade duvidosa) é a compensação de alguma carência. O padrão de beleza (magro) e a busca por ser aceito socialmente torturam desde a década de 90 quem não resiste a abundância de comida processada, vendida em embalagem, com abundância de sódio, de muito sabor (fast food) que estão muito longe do que se chama comida de verdade.