Larga esse livrinho

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Eu era um observador do professor Wlademir dos Santos, em 1990, na OSE (Organização Sorocabana de Ensino), antes da divisão em três escolas (COC, OSE e Uirapuru).

Um dia, um casal na faixa dos 30 anos, entra na sala dele demonstrando preocupação com o filho de 10 anos. Ele tirava boas notas, era participativo nas aulas e gostava da escola, mas havia um problema: O menino não gostava de ler.

Seo Wlademir perguntou como era a rotina da casa. Como era quando a família acordava, quando chegavam em casa, antes de dormir… E o casal foi relatando em detalhes. 

Seo Wlademir perguntou que horas eles liam o jornal. Não liam. Nem assinavam. Que horas eles liam um livro. Não liam. Nem compravam. A mãe disse que a última vez que havia estado com um livro em mãos ela ainda estava no ginásio. 

Seo Wlademir enalteceu a preocupação dos pais e sugeriu hábitos novos na rotina incluindo a presença de jornal, revistas e livros na casa. E que os pais, quando vissem o filho por perto, começassem a ler, deixando para ver TV quando o filho não estivesse presente.

Fico imaginando o que ele diria hoje quando o celular é a preferência de adultos e crianças.

O filho imita os pais ou aqueles que o cercam ou simplesmente ele tem admiração. 

Nunca mais me esqueci disso. 

Me lembrei dessa história por ver na Linha do Tempo de meu Facebook algumas manifestações sobre o Dia Nacional do Livro, comemorado em 29 de outubro. 

Me perguntei, então, porquê me tornei leitor uma vez que não haviam livros em casa. Meu pai, quando já estava perto de morrer, o que aconteceu com 74 anos, lia a Bíblia. Minha mãe, também com idade avançada, lia livros e também a Bíblia. Mas sempre houve jornal em casa, Diário de Sorocaba e Gazeta Esportiva.

Eu adorava desde pequeno jornal. Eu recortava a fotografia de jogadores e colava num caderno. Adorava catalogar quem aparecia no noticiário.

Claro que isso tudo teve influência sobre meu gosto por livros. Mas houve um episódio senão maior, ao menos tão importante nisso tudo. 

Meu tio Zé, fiz obituário neste blog quando de sua morte, trabalhava na Editora Abril e dava revistinhas de presente ao meu irmão mais velho. Depois, quando adolescente, esse meu irmão comprava gibis com histórias e aventuras. Ele gostava de almoçar sozinho. Antes ou depois de todos em casa e lendo sua revistinha, que ficava ao lado do seu prato de comida na mesa da cozinha. Então minha mãe perdia a paciência e gritando, num tom de desespero, enunciava: Larga esse livrinho! Isso vai te fazer mal, ela sentenciava. Meu irmão ignorava seu apelo.

Era uma cena recorrente. Pelo menos é o que me indica a memória. 

No começo eu estava totalmente de acordo com a minha mãe. De repente passei a achar que meu irmão tinha razão, quando eu fui ler seus livrinhos. E dezenas de anos depois, milhares de páginas depois, sigo me deliciando com narrativas.

Que eu possa ser influência às minhas filhas e netas. Este (influenciar no gosto por literatura) é um legado que vale a pena ser passado de geração para geração.

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