Minha conterrânea

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“Nunca te vi, sempre te amei” é um dos filmes (que assisti já há 35 anos, um pouco mais um pouco menos) que guardo com carinho em minha memória não só pela sua história, mas também por sua narrativa, fotografia e música. 

Lembrei desse filme na tarde de ontem logo que uma amiga querida me anunciou a morte de Dea Conti, a Maria Dea Conti Nunes.

Dea se formou em Filosofia pela USP, escrevia lindas histórias recheadas com suas memórias que estão misturadas em suas centenas de postagens de livros em sua página de Facebook.

Dea era livreira. No melhor sentido dessa palavra. Ela tinha a Banca Macunaíma, que vai seguir na ativa com seu parceiro Henrique, no centro de São Paulo, mas vendia através da Internet. 

Foi assim que iniciamos uma amizade. Ela me enviava sugestões de livros que ela achava que eu gostar. Eu comprei alguns. Eu lhe pedia livros e quando ela não tinha lamentava.

Dea foi das pessoas mais gentis que conheci. E, também, uma das que mais amava os livros, a literatura e a conversa, mesmo que apenas virtual, como era o meu caso e dela. Assim como no filme “Nunca te vi, sempre te amei”, onde a troca se dava pelos Correios tradicionais através de cartas.

Fiquei tão chocado com sua morte que a amiga que me deu a notícia achou que eu e Dea nos conhecíamos pessoalmente. Eu sempre lhe dizia que iria até sua banca e não fui porque achei que ainda havia tempo pra isso. 

Henrique, o parceiro de Dea na banca, explicou a causa da morte: “É com imensa tristeza que aviso aos amigos que Dea Conti faleceu hoje. Ela vinha travando uma árdua batalha contra a leucemia. Há cerca de quatro dias sofreu um AVC e ficou inconsciente e intubada na UTI. Hoje foi declarada a morte cerebral. Ainda não tenho informações sobre o velório.”

Não tinha ideia de que ela estava doente. Um dia Dea me perguntou de Sorocaba e eu lhe contei. Ela disse que não vinha pra cá há anos. E imaginou o que haveria de ter mudado aqui.

O que ela não me contou ao expressar sua curiosidade por Sorocaba é o fato dela ter nascido aqui. Só descobri ao abrir sua página no Facebook no item “Veja mais informações sobre…” Lá está a cidade atual e a natal. Me surpreendi com a informação. Nunca imaginei que fôssemos conterrâneos.

Dea tinha 69 anos. Descansou. Parou de sofrer. Mas deixou uma lacuna que dificilmente será preenchida.

Eu estava com três amigos e falei da curiosidade de não saber que ela era daqui. Um deles disse que era filha do doutor Conti, médico, e irmã da Lígia. Outro disse que o Nunes do sobrenome ela herdou do marido, o Betão, com quem não era mais casada há tempos. Outro lembrou de Dea na infância no Jardim Bandeirantes.

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