Minha mãe, eu e o bullying

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Leio que o assassino do mais recente crime ocorrido dentro de uma escola, em Sapopemba na Grande São Paulo, atirou e matou uma estudante como forma de resolver o bullying que vinha sofrendo.

Bullying, explica o dicionário, “é uma palavra de origem inglesa que designa atos de agressão e intimidação repetitivos contra um indivíduo que não é aceito por um grupo, geralmente na escola”.

Quando eu era criança, na EE Professor Genésio Machado, esse mesmo conceito e significado tinha um nome em português, zoeira.

Seja bullying ou zoeira a intenção de quem pratica é a de ser engraçado, chamar a atenção, receber aplausos… às custas de uma vítima. No geral, alguém diferente. O grupo não suporta quem se destaca principalmente se esse destaque for às custas de algo que a massa tenha preconceito. No caso de Sapopemba, o assassino, relata a imprensa, era homossexual e as meninas lhe agrediam frequentemente. 

Fico pensando porque as meninas se incomodavam tanto com ele!

Eu nunca sofri bullying, não mais que qualquer outro. Em bando, todos zoam um com o outro. Há uma rotatividade com quem fazer a piada. Bullying é quando sistematicamente apenas um é zoado.

Me lembro de um colega, eu devia ter 12 anos, de orelhas grandes. Muito grandes. Todos o atormentavam. Um dia ele perdeu a paciência comigo. Mas ao contrário do assassino de Sapopemba, que usou um revólver, ele me desafiou para uma briga.

Nós estudávamos de manhã e o duelo foi marcado pra tarde, ao final da aula de Física, era como chamávamos a Educação Física. No cruzamento das ruas Balthazar Fernandes com Moreira Cabral, a rua da minha casa, a uns cem metros de minha casa, começamos a nos encarar. Um gigantesco grupo de alunos nos cercou. Ele gritava: Fale agora. E eu, pressionado pela plateia, não conseguia me calar e dizia: Orelhão, Dumbo. Ele, que era maior que eu, vinha enfurecido pra me pegar. Eu me esquivava. Até que nos atracamos no chão.

Então…

Aconteceu a maior vergonha da minha vida. A roda que nos cercava se abriu e quem entrou nela foi minha mãe. Ela foi logo perguntando: O que você está fazendo aí? Claro que ela sabia que eu estava brigando. A pergunta não estava endereçada ao meu amigo e muito menos à plateia. Quando ela soube o motivo, ela grudou na minha orelha e me levou me puxando por ela até em casa. Ouvi desde quem eu estava pensando que eu era até que meu amigo era filho do sapateiro que era amigo do meu pai, açougueiro, até que era pecado falar dos outros, enfim, ela me colocou no meu devido lugar sob os olhares de toda vizinhança.

Nunca mais zoei com meu amigo. E acho que ninguém mais.

Anos mais tarde, quando eu estava no Senai, tinha 15 anos, na primeira semana de aula, um colega, baixinho, o de menor estatura da turma, recebeu o apelido de tripé, burrico, Poltergeister, o fenômeno, em razão do seu pênis avantajado. Mole, tinha o tamanho de uma régua, embora, pelo que eu saiba, nunca ninguém tenha medido. Ele imediatamente foi dispensado da Educação Física e do banho coletivo. Mudaram ele de turma e quem tocasse no assunto era punido.

Imagino que todas as pessoas tenham tido alguma experiência com o bullying em algum momento da adolescência, a fase da vida onde cada um se afirma diante de si e do grupo. Uns saíram ilesos, outros com marcas que levaram pra vida. O assassino de Sapopemba fez a si uma marca que nunca se apagará, que é a de ter tirado a vida de alguém. Este é o pior modo de resolver um problema.

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