A estilista sorocabana Neyde dos Santos Almeida foi vencida por um câncer e morreu aos 77 anos no sábado passado, deixando três filhos e seis netos.
Dona Neyde se transformou em um ícone da moda em Sorocaba em seus mais de 50 anos de carreira – quando costurou para mulheres de Sorocaba e região – impulsionada pelo 2º lugar no concurso Melhor Estilista do Brasil, no programa de Clodovil Hernandes, então na TV Bandeirantes, em 1983.
Costureira de mão cheia, como diz o ditado, ela tinha um talento reconhecido por quem sempre a procurava quando tinha o desejo de vestir-se bem em especial noivas ou quem queria um vestido de festa.
Dona Neyde sabia que quem a procurava, não estava apenas comprando alguns pedaços de panos bem costurados, mas estava comprando sua própria alma para refletir no outro a energia que carregava dentro de si, ou seja, quem queria um vestido By Dona Neyde tinha a certeza de que estava levando a representação imagética, individual e de grupo, que aquela vestimenta representava.
Nunca conheci Dona Neyde pessoalmente e nem mesmo ninguém de casa (minha mãe, irmãs ou tias) haviam sido clientes da dona Neyde, mas a força do seu trabalho sempre foi algo que me impressionou enquanto jornalista.
Nasci e passei a minha primeira infância entre a cozinha e o quartinho com a máquina de costura, locais onde minha mãe dividia o seu tempo no dia a dia. E a televisão sempre foi uma formadora dos conhecimentos daquela criança que fui. Algumas novelas tiveram forte influência em minha formação, a primeira delas “Plumas e Paetês” onde a passarela e aquelas modelos me chamavam a atenção. Um pouco depois, foi a vez de “Ti-ti-ti”, onde dois estilistas disputavam a primazia das clientes num drama mais policialesco. Ali, de forma inconsciente, já se fixava em mim aquilo que viria a ser a essência da minha formação: o Signo (algo que está no lugar do outro e o representa).
Dona Neyde lidava com a principal expressão sígnica da contemporaneidade que é a roupa, que tanto na Antiguidade como nos dias atuais, como se viu ao longo dos séculos do mundo já civilizado, serve para distinguir a classe social a qual o indivíduo pertence. A roupa carrega o significado do papel que o indivíduo representa dentro da sociedade, mesmo que (desde o final do século 20 e até agora no começo da segunda década do século 21) a classe social tenha ficado num segundo plano, a roupa segue sendo um elo de distinção do grupo ou tribo ao qual o indivíduo pertence.
PS – Como há algumas pessoas confundindo, que fique o registro: a moda sorocabana teve a dona Neyde, que morreu, com Y. Tem a dona Neide Fernandes Melo, que por 55 anos teve a loja Neide Modas no final da rua da Penha e segue viva. E tem a dona Norma Stefan, que por décadas esteve à frente da loja Le Fiacre, na parte de cima da rua da Penha.