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Fui surpreendido na manhã de hoje com o comunicado da morte de Claudinho Anacleto que fez história como jogador e treinador de futebol. 

Quando eu era criança, o meu quintal era o Estrada, clube da rua Aparecida na Vila Santana, onde desde os 7 anos eu ia sozinho. Todos os dias, com exceção da segunda-feira que ficava fechado, eu estava lá. Era fominha pela piscina, depois futebol, tênis… na malha e carteado eu era só observador.

Um dia, ao subir ao campo (sim, havia uma escada de uns trinta degraus que ligava o vestiário ao gramado), eu devia ter 9 ou 10 anos, era 1976 ou 77, vejo um gigante fazendo treinamento sozinho. Um cara forte, ágil. Ele amarrava uma corda na cintura e a outra ponta no alambrado e ele corria com força, sem sair do lugar, como se fosse capaz de arrancar aquela estrutura. Ele dava piques de velocidade do meio-de-campo à linha de fundo como o Ligeirinho do desenho da TV. Sua panturrilha era uma pedra… Num campo onde era predominante o preto e vermelho, ele usava uma camiseta azul anil linda.

Quem é esse? Quem é esse? Nós, os mirins do Estrada, ficamos hipnotizados por aquele ser extraordinário. Pela primeira vez víamos um jogador profissional a um metro de distância… É o Claudinho…liga… liga, liga… esse era o tique do Bié que nos informava. Bié, uma espécie de faz-tudo que cuidava do vestiário, das chuteiras, do gramado… do Estrada. Liga, liga… ele é craque do Cruzeiro… Liga, liga o pai dele jogou aqui, ele mora aqui no bairro…

Claudinho Anacleto, que eu aos 9 ou 10 anos via como um gigante, sempre foi baixinho. Leve. Ágil. E rápido. Tivesse tido empresário, certamente teria brilhado na Seleção Brasileira. No futebol, como na vida de uma maneira geral, talento, habilidade e inteligência são importantes, mas, mais importante, é quem lhe abra portas e acolha.

O São Bento fez isso com Claudinho Anacleto, ou melhor, Cláudio Ernani Rodrigues. O Anacleto do seu sobrenome é uma justa homenagem ao seu pai. 

Em seu currículo de jogador, me surpreendo, não tem passagem alguma pelo Cruzeiro. Certamente nos dias que eu o vi de perto era uma camisa qualquer. Poderia ter sido a do Itajubá, cidade onde ele nasceu em Minas Gerais. Entre os times onde ele jogou de ponta direita estão Juventus, o Moleque Travesso da Mooca; Internacional de Porto Alegre, Rio Grande do Sul; Galatassaray, Turquia; e claro o São Bento onde também foi treinador e teve até o seu último dia o acolhimento da diretoria.

Emotivo, empático e sempre com fé em dias melhores. Esse foi Claudinho.

Seu corpo será velado hoje das 11h30 às 16h30 na Ossel de Vila Assis e o sepultamento no Memorial Park em Sorocaba. Tinha 62 anos e morreu devido a uma insuficiência renal que provocou insuficiência cardíaca e levou ao infarto.

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