Conto os minutos para a máquina de lavar roupas finalizar a lavagem em curso…
Conto os minutos para sair da esteira da academia…
Conto os minutos para chegar ao destino de um trajeto diário no carro que dirijo…
Conto os minutos à espera de que uma mensagem me chegue no WhatsApp e mude o curso dos últimos anos…
Não há o que eu faça sem cronometrar o tempo até finalizar a tarefa…
Estou preso na ilusão de que algo vai acontecer…
Não sei o que estou semeando… então não há como saber o que colher.
O que colho perdeu o sabor e não vejo conexão comigo.
Possuo apenas histórias velhas, já contadas uma infinidade de vezes. Nem a ouvidos novos me animo a repeti-las.
Não esqueço o relógio e somo os minutos. Acumulo horas de nada. Estou especializado na insossa rotina de dar comida e água aos gatos e cão e comida ao peixe Beta azulesvermelhado. O outro, um laranja, morreu nesta madrugada. Foi encontrado boiando nesta manhã. Soube do ocorrido pela voz de minha neta horrorizada com a cena. Ela me pediu para tirar o cadáver (ela disse ele) do aquário. Quando ela chegou com a redinha, eu já havia tirado ele com a mão, jogado na privada e dado descarga. Ela se expressou: Que nojo! Você pegou com a mão o peixe morto… Eu lavei com sabão, ficou limpa como se não tivesse pego.
Tem coisas que são assim, basta lavar que ficam puras novamente.
Olho o relógio e conto os minutos para o dia terminar. Quando o Sol se pôr atrás do Morro de Ipanema vai dar para assistir TV. Hoje tem jogo do Palmeiras, mas quero ver um novo capítulo da série coreana que se passa em Seul e me reaviva a memória dos dez dias que passei entre aquela cidade e Anyang. Uma história velha…
Nas páginas do livro que leio não existem minutos. O tempo para. Me sinto bem. Escrevo e não há relógio…