Prefeito mantém tradição e abre o ano legislativo na Câmara de Sorocaba. Diz que 2017 foi de aprendizado, mas ignora a crise política

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O prefeito Crespo manteve a tradição e abriu o ano legislativo da Câmara Municipal de Sorocaba comparecendo à primeira sessão ordinária do ano de 2018, realizada nesta quinta-feira, 1º de fevereiro de 2018. Primeiramente ele disse que equacionou as dívidas recebidas da gestão do prefeito Pannunzio ao longo de 2017, que somavam cerca de R$ 281 milhões; depois pediu o apoio dos vereadores para governar, disse que seu primeiro ano foi de aprendizado, reconheceu o papel do legislativo, mas solenemente ignorou que teve o mandato cassado e governa por uma liminar que será julgada no Tribunal de Justiça na próxima segunda-feira, dia 5 de fevereiro. Por fim, o prefeito enumerou as realizações de seu primeiro mandato, anunciando que irá zerar a demanda por creche até o final do mandato.

Papel do Legislativo

Lembrando que sua formação como político se deu como parlamentar, Crespo enfatizou que reconhece o papel do Poder Legislativo, não apenas na produção de leis, mas também na fiscalização dos atos do Poder Executivo, como parte do sistema de pesos e contrapesos entre os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, idealizado por Montesquieu e que caracteriza as repúblicas democráticas.

“O nosso primeiro ano de governo foi um período de aprendizado e planejamento, que já passou. Vencemos as maiores dificuldades e já pagamos praticamente todas as dívidas, que somavam R$ 281 milhões, cerca de 10% do orçamento nominal. Outro déficit que resolvemos foi o da Urbes, de 70 milhões, que conseguimos reduzir, mediante acordo com as operadoras, que irão receber esse valor a médio e longo prazo. Também conseguimos manter todos os programas sociais existentes e criamos alguns outros”, afirmou o prefeito, que entregou a cada vereador um relatório sobre seu governo em dois volumes: um com as obras e serviços realizados no primeiro ano e outro com o plano de governo. “Trouxemos nosso plano de governo para que os senhores nos cobrem. É isso que é transparência pública, para que sejamos cobrados mesmo”, afirmou.

Desafios da gestão

O prefeito também falou dos desafios que sua gestão enfrenta, entre eles o déficit da Previdência Municipal, que, segundo ele, “está piorando a cada dia, como vem ocorrendo em todo o país”. O prefeito afirmou que o déficit da Previdência chega a R$ 150 milhões e sugeriu que as soluções para o problema partam do próprio Legislativo. O vereador José Francisco Martinez (PSDB) indagou se a Prefeitura pretende chamar novos professores concursados, ao que o prefeito respondeu que a questão está em estudo, mediante um comparativo com outras cidades do porte de Sorocaba. O prefeito afirmou que as funções típicas de Estado continuarão sendo exercidas por servidores estatutários, mas outras funções poderão ser terceirizadas.

O prefeito José Crespo também fez um resumo das realizações entregues aos vereadores em seu relatório, começando pela educação. Segundo ele, oito novas creches serão iniciadas em 2018 e foram economizados R$ 35 milhões com a merenda escolar, sem prejuízo de sua qualidade. “Vamos zerar a demanda por creches em Sorocaba até o final do mandato” – enfatizou Crespo. O prefeito também enumerou outras realizações, como a criação de feiras livres, com banheiros químicos em todas elas; a oferta de 139 cursos na Uniten (Universidade do Trabalhador Empreendedor e Negócios); o financiamento R$ 2 milhões por meio do Banco do Povo; o Projeto “Arrastão Cultural, que leva cultura para diversos locais da cidade; a recuperação de R$ 44 milhões por meio do Refis; e a reforma e ampliação do horário de atendimento das Unidades Básicas de Saúde, entre outras, como a questão dos moradores de rua (leia em postagem anterior).

Memória seletiva

O que chamou a atenção é que o prefeito está com memória seletiva, ou seja, ele se lembrou do que julgou importante para ele, deixando de colocar foco na crise política que marcou o seu principal ano como chefe do executivo. Além de manifestações polêmicas em entrevistas à imprensa, interpretadas como desrespeitosas, e da série de ações contra a vice-prefeita, o ano foi marcado pela cassação do seu mandato. Mas ele não citou isso, a não ser pedindo apoio e reconhecendo a importância do legislativo.

O que salvou o seu discurso, no meu entender, foi ele ser claro em dizer que o seu primeiro ano como chefe do executivo foi de aprendizagem. Dono da caneta mais pesada da cidade, quando externa uma verdade como essa, o prefeito é didático e quando se faz entender e se mostra falível (humano) aumenta a chance de governar com harmonia. E é isso o que o cidadão deseja: um governo que faça o que disse em campanha que iria fazer. Nada mais.

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